O número talvez não seja suficientemente relevante para virar estatística, mas é alarmante a quantidade de jovens inteligentes, talentosos e de boa formação que estão desistindo do Brasil. Não se trata de intercâmbio temporário para aprender inglês, fazer uma pós-graduação ou um ano sabático. Tampouco são imigrantes ilegais, que se sujeitam a lavar pratos, fritar hambúrguer ou fazer faxina por uns trocados em moeda forte. É uma elite intelectual desistindo do Brasil e se mudando de mala e cuia para trabalhar em outros países.
Na raiz dessa diáspora estão o medo da violência, a falta de perspectiva, os baixos salários de início de carreira, a descrença no futuro do país, a inconformidade com o triunfo de ideias que no século passado já eram velhas. O professor Luís Lamb, secretário de Ciência e Tecnologia, identificou esse fenômeno entre seus orientandos: mais da metade já foi embora. Faço um rápido exercício e constato que estou cercada de pais e mães que precisam de passaporte para visitar os filhos.
Karine e Camila são irmãs. Eu as vi crescer, sedentas de conhecimento. Karine estudou Engenharia da Computação, tinha um bom emprego em Porto Alegre, mas recebeu uma proposta melhor e foi trabalhar na Holanda com o marido e a filhinha de dois anos. Camila fez Administração de Empresas, entrou para uma multinacional, candidatou-se em um processo seletivo interno e foi parar na Bélgica. Promovida, mudou-se para a Noruega.
Victor fez Ciências da Computação na UFRGS, foi selecionado para um programa de pós-graduação na Alemanha e não voltou mais, a não ser para visitar a família. Júlia, que desde adolescente é cidadã do mundo, acabou de concluir o curso de Design e voou para a Nova Zelândia. Gabriel fez dois cursos superiores (Administração e Ciências Contábeis) e foi trabalhar no Canadá. Outro Victor trancou o curso de Engenharia para passar uma temporada na Austrália, voltou ao Brasil para concluir a faculdade e está de volta à Oceania. A mãe e o irmãos acabam de voltar da Nova Zelândia pensando seriamente em emigrar também.
Perdi a conta de quantos filhos de conhecidos que têm cidadania italiana migraram para a Europa em busca de qualidade de vida. Todos os dias, cuidando do WhatsApp da Rádio Gaúcha durante o programa Gaúcha Atualidade, recebo mensagens de brasileiros trabalhando em outros continentes. Alegro-me pelos que triunfam longe da pátria, mas lamento que o Brasil esteja perdendo profissionais de talento para outros países e que outros tantos, com experiência e boa formação, sejam obrigados a ganhar a vida como motoristas de aplicativo porque lhes falta emprego.