Eleito com discurso de combate à corrupção, de “mudar tudo isso que está aí”, o presidente Jair Bolsonaro está disposto a fritar um aliado fiel para sair ileso de uma crise moral, que envolve repasses de dinheiro público a candidatas supostamente laranjas.
A política que os brasileiros estavam acostumados a assistir é muito diferente da praticada hoje em Brasília. Um dos fatores envolve manifestações públicas em redes sociais. Brigas que antes ficavam restritas a gabinetes ganham o mundo porque são desenroladas via Twitter.
Endossada pelo presidente, que retuitou postagem do filho Carlos Bolsonaro chamando o ministro da Secretaria Geral, Gustavo Bebianno, de mentiroso, a execração pública assustou até outros colegas de Esplanada.
A mensagem subliminar que fica é de que a família não poupará ninguém que eventualmente afete sua popularidade. O terreno, enfim, foi preparado para a exoneração do ministro.
Eventuais baixas em início de governo não são prática nova para conter crises – o que muda, na gestão Bolsonaro, é o método. Dilma Rousseff e Michel Temer exoneraram envolvidos em escândalos e denúncias nos primeiros meses de gestão, mas as insatisfações com qualquer aspecto não eram reveladas publicamente.
Em 2016, uma semana depois de assumir a Presidência da República, Temer demitiu o então ministro do Planejamento, Romero Jucá, no mesmo dia em que foram divulgadas gravações em que o senador propunha ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado um pacto para barrar a Lava-Jato. Saiu daquele áudio a famosa frase “Com o Supremo, com tudo”, se referindo a um “grande acordo nacional” para suspender as investigações que pegavam um por um dos emedebistas, tucanos e petistas.
Depois de dois anos, Temer relaxou. Embora tivesse prometido afastar denunciados pelo Ministério Público, o então presidente guardou embaixo de sua asa aliados que sempre lhe foram fiéis, como Eliseu Padilha e Moreira Franco.
No governo Dilma, reinou a “faxina ética” logo no início. O mais importante ministro àquela altura, Antonio Palocci, então chefe da Casa Civil, foi demitido após o jornal Folha de S.Paulo revelar suspeito aumento de seu patrimônio, multiplicado por 20 em quatro anos.
Voltando a 2019, Bolsonaro será cobrado para não baixar a régua moral do governo. O enredo que envolve Bebianno e candidaturas laranjas, preenchido com postagens acusatórias na internet, foi pedagógico: o presidente demonstra que, para salvar sua imagem, joga o jogo diante da torcida.
Aliás
Eleita com mais de 2 milhões de votos, a deputada estadual por São Paulo, Janaína Paschoal é a voz mais ponderada do PSL. “Não adianta eleger um culpado e cortar cabeças, sem apurar”, escreveu no Twitter.