O retorno turbinado de Donald Trump à Casa Branca trouxe ao governo Lula uma extensa lista de preocupações. Muito além da disputa ideológica e das divergências acerca da pauta ambiental, a inquietação imediata é com o impacto direto das primeiras medidas do republicano na economia brasileira. Auxiliares da área econômica já alertavam que o país precisava fazer a lição de casa para ficar menos exposto ao cenário externo, mas os conselhos foram praticamente ignorados.
Nas últimas conversas que teve com seus ministros, Lula colocou como prioridade a redução do custo de vida dos brasileiros. A comida está cara, o custo dos serviços também, o crédito mais ainda. A persistência deste cenário significa descumprir a principal promessa de campanha do petista: melhorar a vida dos mais pobres.
A se confirmarem as promessas protecionistas de Trump, a inflação e os juros nos Estados Unidos continuarão em patamar elevado (para o padrão local), ao menos no curto prazo. O efeito cascata é conhecido. E quando nem mesmo a rechonchuda Selic atrai os investidores, o dólar aumenta e pressiona os preços aqui dentro.
O Itamaraty terá trabalho para contornar a eventual taxação de importações prometida por Trump, para lidar com a guinada na pauta ambiental que unia Lula e o democrata Joe Biden. O fortalecimento político das Big Techs também poderá gerar dificuldade ao governo e ao Judiciário em mercados mais regulados, como o Brasil.
Nada é mais urgente, contudo, que o efeito direto no custo de vida por aqui. Além do pragmatismo que promete buscar nas relações comerciais com os Estados Unidos, Lula terá de olhar para dentro de casa, assumir de vez o compromisso com as contas públicas e diminuir os efeitos da instabilidade econômica. Se juros e dólar continuarem em alta, o custo de vida subirá ainda mais, e apenas culpar Trump não bastará para o petista convencer seus eleitores.