A confirmação de que o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) será mesmo julgado pelos seus colegas, provavelmente em agosto, mostrou que o resultado prático da infindável série de manobras adotadas pelo parlamentar fluminense foi apenas o adiamento de algo que parece sacramentado: Cunha será cassado por quebra de decoro.
Na quinta-feira, os integrantes da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) analisaram um parecer que favorecia Cunha e devolveria o processo contra ele ao Conselho de Ética da Casa. A votação confirmou o esfacelamento do poder do deputado, que durante o período em que esteve à frente do Legislativo pareceu – e talvez fosse – suficiente para fazer prevalecer as suas vontades. Cunha perdeu de lavada: 48 votos contra o parecer e apenas 12 a favor.
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Na véspera da votação na CCJ, a eleição para a presidência da Câmara já dava mostras do enfraquecimento do peemedebista. Em um escrutínio fechado, circunstância que poderia ajudá-lo, Cunha acompanhou a derrota do candidato da sua preferência, Rogério Rosso (PSD-DF), para Rodrigo Maia (DEM-RJ), também por larga margem de votos. A fragmentação do centrão ficou definitivamente materializada.
A sucessão de acontecimentos dos últimos meses deixa claro que, embora tenha tentado esquivar-se de todas as formas, Cunha pagaria um preço por fincar pé e não querer deixar a presidência da Câmara quando as suspeitas começaram a aparecer. O peemedebista poderia ter imitado o gesto do desafeto Renan Calheiros, que, acossado pela denúncia de que recebera dinheiro de lobistas e utilizado os valores para pagar despesas pessoais, renunciou ao comando do Senado. A saída imediata de Renan permitiu que negociasse apoio para não ser cassado.
Ao contrário de Renan, Cunha acreditou ter mais poder do que tinha na prática. Isso resultou, inclusive, na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de afastá-lo do mandato. Por mais que esperneie e peça um julgamento jurídico, utilizando como argumento o regimento do Legislativo, o deputado sabe que prevalecerá o componente político, e, nesse sentido, Cunha está afundado.
* A colunista Rosane de Oliveira está em férias.