
Há um prédio no Vaticano onde Rússia e Ucrânia ficam a poucos metros um do outro e convivem em paz, onde o idioma predominante é o italiano, mas todos conversam em inglês, espanhol, português, e outros 37 línguas se for necessário. Há até algumas variantes. No caso da Índia, um país do tamanho de um continente, há, além do inglês, o malaialim, o tâmil e o hindi. São mais de 400 profissionais de 68 nacionalidades envolvidos 24 horas por dia em transmitir ao mundo as notícias da Santa Sé.
Essa é a Rádio Vaticano, a voz oficial do papa. Sua sede fica no final da Via della Conciliazione (a contar da Praça de São Pedro), de frente para o Castel Sant'Angel, no prédio chamado Palazzo Pio.
A Redação brasileira está a cargo do paranaense Silvonei José Protz. Nela trabalham sete pessoas.
São três andares recheados de salas de redação — em geral, cada país (ou idioma) tem a sua —, estúdios de gravação, locução, técnica e edição de vídeos. No segundo andar também fica o L'Osservatore Romano, o jornal oficial do Vaticano.
É de responsabilidade dos jornalistas da Rádio Vaticano e Vatican News narrarem ao mundo o que se passa atrás dos muros da Santa Sé. Nos mais de 40 dias em que o papa Francisco ficou hospitalizado, por exemplo, era por meio das postagens que saiam dali que os veículos de comunicação de todos os quadrantes calibravam a cobertura. Eram mensagens curtas, que se limitavam a reproduzir o boletim médico.

Engana-se, entretanto, quem pensa que os jornalistas que ali trabalham têm informações privilegiadas. Quando se trata da saúde do Pontífice ou, agora, do conclave que elegerá o sucessor de Francisco, nem eles próprios dispõem de detalhes. Nesses dias de muito trabalho, inclusive a preocupação é unificar o discurso — o que não é fácil em meio a tantos idiomas diferentes e entre tantos profissionais. Qualquer deslize pode comprometer a credibilidade e até criar uma crise entre a Igreja e alguma religião ou país. Nesta segunda-feira (28), enquanto a coluna visitava o prédio, inclusive, ocorria uma grande reunião de alinhamento para a cobertura do conclave.
Para o Brasil, são três programas ao vivo em língua portuguesa. Com acesso livre intramuros, eles cobrem os eventos do Papa dentro e fora da Praça de São Pedro, as audiências gerais, e distribuem as imagens para o planeta. No estúdio mais moderno, com microfones e câmeras, eles receberam em maio de 2021 o papa Francisco, na única vez em que o Pontífice argentino esteve na sede da rádio. Foi uma entrevista de 10 minutos. Uma eternidade em se tratando de um Papa.