
Passados quase 11 meses da enchente em Porto Alegre, agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), que tiveram sua sede destruída, seguem trabalhando em condições inadequadas.
À época, o departamento, um dos principais órgãos de investigação especializada da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, se mudou para a antiga sede da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), na Avenida Joaquim Porto Villanova, no bairro Jardim Carvalho, em Porto Alegre. Mas policiais reclamavam que o local era insalubre. Muito quente, obrigava agentes e delegados a trazerem ventiladores de casa e nem sempre havia tomada para usar.

No final de janeiro, houve, por três dias seguidos, princípios de incêndio no prédio F., que acabou interditado.
Com isso, muitos policiais e delegados estão trabalhando em casa. Agentes têm dificuldade para acessar a rede sigilosa de forma remota. Precisam analisar apreensões, centenas de dados extraídos de celulares de suspeitos, mas não têm HDs com capacidade para baixar o material. Eles relatam também dificuldades para lidar com apreensões devido à falta de espaço para guardar materiais recolhidos em endereços de suspeitos. Contam ainda haver dificuldade para marcar depoimentos devido ao espaço reduzido.
Um delegado relata ter pedindo ajuda para colegas em delegacias distritais para colher o depoimento nesses locais. O presidente da Associação dos Delegados de Polícia do RS (Asdep) e ex-diretor do Deic, Guilherme Wondracek, colocou à disposição a sede da entidade.
— A Asdep virou uma segunda sede do Deic: auditório, galpão crioulo, sala de reuniões. Nesse momento, estão usando uma sala para uma delegacia. Praticamente, todos os dias há alguma delegacia usando nossos espaços — afirma.
Segundo ele, recentemente, policiais, impossibilitados de utilizar a sede provisória do Deic, passaram a madrugada na Asdep porque havia um sequestro em andamento.
O Deic conta com 13 delegacias e cerca de 200 servidores — durante a enchente, cerca de 60 trabalharam na Asdep, segundo Wondracek. O foco do departamento, um dos mais operacionais da PC, é o crime organizado: combate à corrupção, lavagem de dinheiro, roubo de veículos, captura de foragidos, sequestro e roubo a bancos, por exemplo.
A diretora do Deic, delegada Vanessa Pitrez, explica que já escolheu uma nova sede. Atualmente, estão ocupando algumas salas cedidas por outros departamentos no prédio A1.
— Já estamos no processo de locação do imóvel novo, mas como é processo de inexigibilidade de licitação, por ser uma contratação emergencial, ainda tem uns trâmites até a gente conseguir entrar no imóvel.
O prédio fica localizado próximo à antiga sede, na área do aeroporto Salgado Filho.
Questionada sobre risco de novos alagamentos na região, a delegada explica que, na nova sede, as delegacias ficarão no terceiro andar do prédio — o primeiro pavimento é reservado a estacionamento. Em maio do ano passado, a água na antiga sede do Deic, na Avenida das Indústrias, chegou a dois metros, e o departamento perdeu praticamente todos a mobília, além de documentos apreendidos e até informações de inquéritos. Ela prevê que a mudança ocorrerá em 60 dias.
Se a previsão se confirmar, somado ao tempo em que o prédio está interditado, serão pelo menos mais 120 dias com agentes e delegados do Deic desalojados.