Fez-se algum barulho diante da substituição do ministro Paulo Pimenta por Sidônio Palmeira na Secom, como se todos os problemas da República fossem resolvidos com uma simples troca na comunicação do governo. Aliás, estou com isso na cabeça desde a mudança: o problema seria, de fato, a forma de comunicar ou o conteúdo (ou falta de) a ser comunicado?
Não é necessário estudar marketing político para se saber que o governo se comunica mal – tampouco sugerir que o presidente precisa dar mais entrevistas, viajar pelo país para tomar um choque de realidade e compreender o que exatamente a população está sentindo quando as pesquisas mostram sua popularidade em queda. Esses gestos ajudariam Lula a não ressuscitar Roberto Campos Melo, seu Malvado Favorito, ou evitaria que, com o Carnaval se aproximando, usasse a máscara de Maria Antonieta, ao dizer que se os súditos “estão sem pão que comam brioches”. Ora, qualquer consumidor sabe que, se um produto da gôndola do supermercado está mais caro, o negócio é trocar por um similar mais em conta. Não precisa Lula explicar.
É fundamental que o presidente pare de achar culpados – reais ou imaginários – pela inflação e assuma responsabilidades. Buscar o equilíbrio fiscal não deve ser apenas questão de oratória quando o bicho pega, precisa ser lastreado por atos concretos.
Caso contrário, vai ser inócuo conceder mais entrevistas – em que Lula, como se sabe, irá fechar a cara diante de perguntas inconvenientes e necessárias. Tampouco ajudará viajar pelo país, gastando o dinheiro público e emitindo CO2, ou adotando a narrativa populista de slogans em boné azul com a inscrição “O Brasil é dos brasileiros”. Não sou crítico do tal boné – até acho simpático e uma jogada interessante de marketing tardia, depois que a direita se apropriou das cores verde-amarela, em um nacionalismo populista de prateleira.
Agora, nada disso adianta sem ações concretas. Marketing sem conteúdo é só marketing. Propaganda vazia. Cabeça não é só pra usar chapéu. E boné, sem cabeça, é mero adereço.
