
O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
O Brasil concedeu, nesta quarta-feira (16), asilo político à ex-primeira-dama do Peru Nadine Heredia, condenada pela Justiça de seu país por lavagem de dinheiro em casos ligados à empreiteira brasileira Odebrecht. Essa não é a primeira vez que o governo brasileiro oferece proteção a figuras controversas da política internacional. Confira alguns dos casos mais emblemáticos:
Alfredo Stroessner
Ditador do Paraguai, governou o país entre 1954 e 1989, liderando o regime autoritário mais longo da América do Sul, marcado por repressão, corrupção e violações de direitos humanos. Após ser deposto por um golpe em 1989, fugiu para o Brasil, onde recebeu asilo político durante o governo de José Sarney. O Paraguai pediu sua extradição em 2000, mas o Brasil não respondeu ao pedido. Stroessner morreu em Brasília, em 2006, sem nunca ter sido julgado.

Roger Pinto Molina
Opositor ferrenho de Evo Morales, denunciou corrupção e foi acusado de "sedição" pelo governo boliviano. Em 2012, pediu asilo na Embaixada do Brasil em La Paz, onde ficou 15 meses até ser retirado em um carro diplomático brasileiro — episódio que tensionou as relações entre os países. Morreu em um acidente aéreo em Goiás, em 2017.

Cesare Battisti
Um dos asilos mais controversos da história recente do país, o ex-militante de extrema-esquerda italiano Cesare Battitsti ficou conhecido por seu envolvimento com grupos armados na Itália nos anos 1970, onde era acusado de participar de assaltos, sequestros e quatro homicídios. Em 1981, fugiu para a França, onde conseguiu asilo político. Os franceses revogaram seu asilo. Naquele momento, ele escapou para o México e, depois, para o Brasil, em 2004. Em 2009, o governo Lula lhe concedeu asilo político, ignorando um pedido de extradição da Itália — que o acusava de terrorismo. O Brasil o considerava um perseguido político. Em 2019, o governo Jair Bolsonaro autorizou sua extradição, e Battisti foi preso e deportado para a Itália.

Abdalá Bucaram
Foi presidente do Equador deposto em 1997 por "incapacidade mental" declarada pelo Congresso de seu país. Vindo ao Brasil com parte de sua família, viveu aqui asilado por vários anos.
Demais casos
Há outros dois casos que chamam a atenção: Ronald Biggs e Manuel Zelaya. Os dois não receberam asilo político formal do Brasil, mas foram protegidos pelo governo brasileiro.
Biggs viveu no país por cerca de 30 anos. Participou do famoso assalto ao trem pagador, em Glasgow, em 1963. Foi preso, fugiu do Reino Unido e chegou ao Rio de Janeiro em 1970, onde viveu até 2001, quando voltou a seu país e foi detido imediatamente. Ganhou condicional em 2009, aos 80 anos, e faleceu em 2013.
Já Manuel Zelaya foi presidente de Honduras entre 2006 e 2009, foi deposto por um golpe militar ao tentar realizar uma reforma da Constituição, considerada ilegal. Em junho de 2009, militares o sequestraram e o expulsaram do país. Zelaya retornou clandestinamente em setembro e refugiou-se na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Após meses de impasse, deixou o país em 2010 e viveu na República Dominicana, retornando em 2011. Sua esposa, Xiomara Castro, é a atual presidente de Honduras.
