A investigação da Polícia Federal de um membro das Força de Defesa de Israel (FDI) acusado de suposto crime de genocídio está ganhando contornos de nova crise diplomática entre Brasil e Israel. Nesta segunda-feira (6), um deputado israelense, Dan Illouz, do partido Likud, o mesmo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, acusou o Brasil de ser um "Estado patrocinador do terroristas".
"O Brasil se tornou um Estado patrocinador de terroristas. Em vez de perseguir terroristas, persegue um soldado das FDI — um judeu que sobreviveu a um massacre brutal e defende seu povo. Uma vergonha imperdoável. Israel não ficará de braços cruzados diante da perseguição a seus soldados e, se o Brasil não corrigir seu caminho, pagará um preço", escreveu o político em suas redes sociais.
O caso veio a público no final de semana, quando o portal Metrópoles noticiou a decisão da juíza federal Raquel Soares Charelli de autorizar investigação, pela PF, do cidadão israelense Yuval Vagdani, 21 anos, que estava no Brasil. Reservista, ele integrou a operação das FDI na Faixa de Gaza, em resposta aos atentados terroristas contra Israel, em 7 outubro de 2023. Segundo fontes, o jovem inclusive teria sido uma das vítimas do massacre naquele dia.
Conforme a denúncia que embasou a decisão judicial, Vagdani, membro da 432º Batalhão das Brigadas Givati, teria participado em Gaza da destruição de uma região inteira, o chamado Corredor Netzarim, com prejuízo da população civil e em área fora de combate. A acusação é de crime de genocídio.
A autora da ação é a Fundação Hind Rajab, uma organização com sede na Bélgica que vem denunciando às justiças de diferentes países a presença de militares israelenses que teriam participado de ações com mortes de civis em Gaza. Para chegar aos militares, o grupo, formado no ano passado por juristas e advogados, costuma cruzar informações de redes sociais - as fotos postadas pelos próprios reservistas em locais fazendo turismo, dados de geolocalização e fotos e vídeos de suas participações na guerra também postadas na internet. Além do Brasil, já foram denunciados casos de militares que estavam em viagem ao Chile e à Argentina.
Vagdani estava em férias em Morro de São Paulo, na Bahia. Ele teria sido avisado por um amigo, em Israel, no momento em que o caso começou a ganhar repercussão. O Ministério das Relações Exteriores de Israel informou ter dado ordem à embaixada no Brasil para que acompanhasse o caso até "a rápida e segura partida" de seu cidadão. O jovem deixou o Brasil no domingo (5), antes do início das diligências da PF.
A StandWithUs Brasil, organização internacional dedicada à educação sobre temas relacionados a Israel, divulgou nota na qual informa que não houve mandado de prisão e acusou a ONG autora da queixa-crime de ter histórico de apoio aos grupos terroristas Hamas e Hezbollah. "Dyab Abou Jahjah, líder da HRF, já chegou a publicar nas redes sociais conteúdos que negam o Holocausto e, em 17 de outubro de 2024, fez posts no X (antigo Twitter) lamentando a morte do líder do Hamas Yahya Sinwar", diz o texto.
Também em nota, a embaixada de Israel no Brasil disse que a organização explora os sistemas legais para fomentar narrativa contra Israel: “O peticionário representa uma organização estrangeira e está explorando de forma cínica os sistemas legais para fomentar uma narrativa anti-Israel tanto globalmente quanto no Brasil”.
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