Como faz algum tempo que não escrevo sobre a guerra no Oriente Médio, cabe reafirmar que apoiar a criação do Estado Palestino, com a coexistência pacífica entre israelenses e palestinos, não significa justificar o terrorismo nem os crápulas do Hamas. Tampouco significa justificar as ações desproporcionais do governo de Benjamin Netanyahu e suas forças armadas contra civis na Faixa de Gaza.
O extremismo palestino representa a negação dos ataques de 7 de outubro de 2023, o apoio à antissemita frase "Palestina do rio a mar", o que exclui Israel e, por consequência, o apoio a um grupo terrorista que mantém a população palestina refém em seu próprio território. O extremismo israelense significa a negação ao direito de existência do Estado palestino, a ocupação de áreas que lhes são de direito, os abusos de suas forças armadas contra a população e a reverberação desse discurso no mundo contra qualquer manifestação religiosa do Islã — o que é islamofobia.
Dito isso, negando-se extremismos de lado a lado, é importante retornar-se aos conceitos das Relações Internacionais para compreender porque a Palestina tem o direito de ser um Estado. Do ponto de vista descritivo, Estado significa a existência de território, população e governo. Pode-se questionar se a Palestina tem um território, porque essa área é uma colcha de retalhos em parte construída por Israel, o que inviabiliza essa parte do conceito. Ainda assim, podemos falar de duas áreas reconhecidas — a Faixa de Gaza e a Cisjordânia (como se ligariam é outro debate).
O outro conceito que corrobora a existência de um Estado é o reconhecimento por seus pares. Neste momento, mais de 140 países, inclusive o Brasil, identificam a Palestina como tal. É sobre esse segundo aspecto que o mundo se debruça nesta quarta-feira (22), a partir do reconhecimento anunciado, até o final do mês, por parte de Espanha, Irlanda e Noruega da existência do Estado Palestino. Os três são governados por partidos de esquerda - Jonas Gahr Store, na Noruega, fez com que a esquerda voltasse ao poder pela primeira vez no país em 60 anos. Simon Harris, líder do Fine Gael, assumiu após a renúncia do conservador Leo Varadkar. E Pedro Sánchez é conhecido líder desse setor do espectro político.
De todos, o que mais chama atenção é a Noruega, em cuja capital foram assinados, em 1993, os Acordos de Oslo — a mais palpável, embora vilipendiada, iniciativa de paz entre israelenses e palestinos. Se, por um lado, o apoio da Noruega pesa na balança a favor da criação do Estado palestino, por outro inviabiliza o país como futuro mediador. Ao mesmo tempo, o reconhecimento dos três elevará o número de nações na União Europeia, espaço geopolítico fundamental, que admitem a existência do Estado palestino - hoje, 142 das 193 nações da ONU apoiam a criação, Polônia, Hungria, Romênia, República Checa, Chipre e Suécia também apoiam.
Foi, sem dúvida, uma ação orquestrada dessas três nações de forma a pressionar por um cessar-fogo. Ao mesmo tempo, elas conclamam vizinhos a fazer o mesmo. A guerra foi e é ruim. Mas, assim como a tragédia no Rio Grande do Sul, pode gerar algo melhor no futuro. Depende de nossas ações.