Herança dos tempos soviéticos, o envenenamento de adversários políticos é uma técnica clássica utilizada pelo regime de Vladimir Putin para silenciar opositores. Alexey Navalny, morto nesta sexta-feira (16) na prisão de causas desconhecidas até agora, foi um dos inimigos do Kremlin alvo desse tipo de tentativa de ataque, em 2020.
Ele estava em um voo entre a Sibéria e Moscou quando passou mal. A gravidade do incidente obrigou o comandante do avião a fazer um pouso não previsto. Navalny, que foi transferido para receber tratamento na Alemanha, teria sido vítima de um agente químico chamado novichok, enquanto estava hospedado na cidade de Tomsk.
Outro caso famoso - e recente - de suposto envenenamento é do bilionário russo Roman Abramovich, ex-dono do clube de futebol britânico Chelsea. Ele apresentou sintomas de intoxicação durante negciações de paz na fronteira entre Ucrânia e Belarus em 2022. Perdeu temporariamente a visão e sofreu problemas na pele. Abramovich não é adversário do regime. Pelo contrário. Acredita-se que seja muito próximo a Putin. No caso, o ataque teria sido organizado por um setor contrário às negociações com a Ucrânia.
Em 2018, um dos casos mais impressionantes ocorreu no Reino Unido. O ex-agente duplo russo Sergei Skripal e sua filha Yulia foram envenenados com novichok em Salisbury. Eles foram encontrados desacordados em um banco de praça. Ambos sobreviveram graças a tratamento médico. Skripal estivera preso na Rússia por espionar para os britânicos.
No mesmo ano, quando a Rússia sediou a Copa do Mundo, Pyotr Verzilov, integrante do grupo Pussy Riot, crítico a Putin, invadiu o gramado do Estádio Olímpico Lujniki, em Moscou, na final do Mundial. Foi detido. Após audiência judicial, subitamente perdeu a fala, a visão e parte dos movimentos. Tratado em Berlim, sobreviveu.
Um dos adversários de Putin mais famosos e que teria sido vítima de envenenamento foi Alexander Litvinenko, em 2006. Ele trabalhou como espião russo por 10 anos, entre 1988 e 1998. Mas teria sido um agente duplo, servindo em parte do período também àinteligência britânica. Asilado no Reino Unido, tornou-se jornalista e crítico de Putin. Ele passou mal após tomar chá com outros dois ex-espiões em um hotel em Londres. Morreu três semanas mais tarde. Em seu corpo foi encontrado polônio-210.
Antes, em 2004, Viktor Yushchenko, então candidato à presidência da Ucrânia com uma plataforma pró-União Europeia (UE), contrária aos interesses da Rússia, foi envenenado com dioxina durante a campanha eleitoral. Ele sobreviveu, mas ficou com o rosto desfigurado. A vitória do líder pró-Kremlin, Viktor Yanukovych, desencadeou a chamada Revolução Laranja, que culminou na anulação das eleições. Em novo pleito, Yushchenko se tornou presidente.
O Kremlin nega todas as acusações.