Às vésperas da participação brasileira na Cúpula das Américas, fórum internacional que reúne os governos do continente americano, o desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira tem potencial para prejudicar ainda mais a imagem do país em campos caros ao governo dos Estados Unidos, como o ambiente, a liberdade de imprensa e os direitos humanos.
O presidente Jair Bolsonaro se reúne com o americano Joe Biden na quinta-feria (9), em evento paralelo à cúpula.
A notícia do desaparecimento dos profissionais na Amazônia, que desde segunda-feira (6) circula na imprensa internacional, ganhou, nesta terça-feira (7), maior amplitude. Veja o que dizem alguns veículos globais.
The Guardian
O jornal britânico para o qual Dom Phillips escreve com frequência deu amplo espaço para o desaparecimento, destacando a experiência do jornalista com o tema da Floresta Amazônica. Phillips já esteve com Bruno na mesma região em 2018. O diário destaca que o repórter é conhecido "por seu amor pela região amazônica". The Guardian afirma ainda que o temor pela segurança do jornalista e do especialista aumenta com o passar do tempo.
"The Guardian está muito preocupado e procurando urgentemente informações sobre o paradeiro e a condição de Phillips. Estamos em contato com a embaixada britânica no Brasil e com autoridades locais e nacionais para tentar apurar os fatos o mais rapidamente possível", diz o jornal.
Por meio de nota, The Guardian afirmou: "Condenamos todos os ataques e violência contra jornalistas e profissionais de imprensa".
BBC
Também britânica, a rede BBC destacou nesta terça-feira (7) os apelos da família de Phillips por maior ação por parte das autoridades brasileiras para que os dois profissionais sejam encontrados. A rede também salientou que a dupla havia recebido ameaças dias antes de desaparecer. A reportagem, com mapas da região e fotos de Phillips e Bruno, relata as últimas comunicações feitas pelos profissionais e pontua os locais onde foram avistados. Nas declarações reproduzidas pela emissora, Alessandra Sampaio, esposa do jornalista, afirma:
- Nossas famílias estão em desespero, por favor, responda à urgência do momento com ações urgentes. Na floresta, cada segundo conta, cada segundo pode fazer a diferença entre a vida e a morte.
The New York Times
O jornal americano destacou, no texto sobre o desaparecimento dos profissionais, que a Amazônia tem sido atormentada por décadas de violência entre pessoas que querem explorar a floresta em troca de lucro e por aqueles que tentam detê-los. O Times salienta ainda que o desmatamento nos últimos anos vem crescendo. O veículo de comunicação, um dos mais influentes do mundo, também repercutiu as críticas feitas por jornalistas e ativistas indígenas sobre a demora nas buscas, com ênfase na ausência de trabalho por meio de helicóptero e criticando o fato de o Exército não ter recebido, até segunda-feira (6), autorização para o deslocamento de equipes por terra.
The Washington Post
O jornal americano destacou que Phillips está escrevendo um livro sobre a preservação da Amazônia, com o apoio da Alicia Patterson Foundation, que lhe concedeu uma bolsa de um ano para reportagens ambientais. O Post também afirmou que o local do desaparecimento, a via de acesso ao Vale do Javari, é amplamente povoado por indígenas, com dezenas de aldeias, e que seria altamente improvável que eles tenham se perdido naquela área.
O jornal afirmou que a região do Vale do Javari tem passado por repetidos tiroteios entre caçadores, pescadores e agentes de segurança, além de ser uma rota para a cocaína produzida no lado peruano da fronteira. A reportagem relembrou a morte de outro indigenista, Maxciel Pereira dos Santos, assassinado em Tabatinga (AM), em 2019.
Al Jazeera
A emissora árabe do Catar deu amplo destaque ao desaparecimento dos profissionais. O texto da reportagem destaca que Phillips vinha escrevendo sobre o Brasil para, além do The Guardian, The Washington Post e The New York Times. A rede diz ainda que Bruno é um dos maiores especialistas do Brasil em tribos isoladas. O texto também salienta a preocupação de organizações de imprensa, como o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ), que afirmou, por meio de seu diretor Carlos Martinez de la Serna:
- Jornalistas que reportam sobre temas indígenas estão fazendo um trabalho crítico e devem ser capazes de fazê-lo sem temer por sua segurança.
El País
O jornal El País, de Madri, ao informar sobre o desaparecimento, destacou a preocupação das associações que representam os correspondentes estrangeiros no Brasil. As entidades pedem às autoridades que "imediatamente se mobilizem" para localizar Phillips e Bruno e que atuem para "garantir a segurança dos profissionais brasileiros e estrangeiros que trabalham naquela região e que têm sofrido diversas ameaças".