Depois de 13 anos no Haiti, a provável nova missão dos militares brasileiros na República Centro-Africana, a se confirmar o envio para 2018, não será um passeio. Um dos países mais pobres do mundo, a nação de 4,5 milhões de habitantes vive uma guerra civil muito pior do que o país do Caribe estava mergulhado, quando o Brasil chegou, em 2004.
A espiral de violência em regiões onde os capacetes azuis não estão presentes, principalmente no interior, só aumenta. Uma amostra da crueldade do conflito africano ocorreu no sábado, quando granadas explodiram em um café de Bangui, matando quatro pessoas e deixando 20 feridas. Só este ano, as tropas a Minusca (como é chamada a Missão Integrada Multidimensional das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana que o Brasil pode integrar) perderam 12 militares.
A situação começou a se deteriorar na República Centro-Africana em 2013, com a derrubada do presidente François Bozizé. Houve uma revolta de maioria muçulmana, comandada por milícias conhecidas como Seleka. A resposta de grupos cristãos, chamados anti-Balakas, produziu massacres. A França interveio e, na sequência, em 2014, foi iniciada a operação de paz da ONU. Nos três anos de operação na África, foram 43 capacetes-azuis mortos, a maioria em combates. No Haiti, foram 70 mortos, a maioria no terremoto de 2010.
Desde junho, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, tem reiterado que a República Centro-Africana seria o local mais provável da nova missão brasileira (eram estudados também Líbano e Chipre). Na quarta-feira, a ONU aprovou a renovação, por mais um ano, da missão na África. A renovação inclui o reforço de mais 900 militares, com a ideia de tornar a operação mais “móvel e reativa”. Hoje, são 12,5 mil militares da Minusca.
As negociações diplomáticas para o envio de militares brasileiros estão avançadas. As Forças Armadas já estudam a logística. A principal dificuldade é que o país está localizado no centro do continente - diferentemente do Haiti, que fica em uma ilha e para onde equipamentos e veículos chegaram de navio. Na nova missão, tudo teria de ser via aérea - o que encarece os custos totais. Outro desafio é o ambiente desértico - no Haiti, as tropas operavam seguindo a lógica da guerra urbana. Na República Centro-Africana, o combate seria no interior.
Nos meios militares, o envio de uma nova missão ao Exterior, após o encerramento da Minustah no Haiti, é visto com bons olhos. É uma forma de manter a tropa azeitada, no jargão militar. Porém, há preocupação com relação a verbas, em meio à crise econômica. Todo o dinheiro colocado por um país em uma missão internacional é reembolsado pela ONU. Mas, primeiro, é preciso fazer o investimento. A compensação chega depois. O aval para a ida dos brasileiros, o que provavelmente incluirá batalhões do Rio Grande do Sul, por sua expertise em missões de paz, depende do presidente Michel Temer e do Congresso. A decisão é política.