
Para entender o Estado Islâmico (EI), organização que reivindicou os atentados em Paris, no ano passado, e em Nice na semana passada – e ao qual esse grupo de brasileiros teria jurado fidelidade -, é preciso voltar a um nome bem conhecido dos noticiários na primeira década dos anos 2000: Osama bin Laden. À luz da história, podemos dizer hoje que a Al-Qaeda era um arremedo de organização perto da brutalidade e capacidade de arregimentar seguidores do EI. Mas para entender o EI é necessário remontar à Al-Qaeda. O grupo que apavora o mundo nasceu de uma ramificação da organização que executou os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
Tudo começou muito antes de jatos comerciais serem jogados contra o World Trade Center. No vilarejo sujo de Zarqa, a 40 quilômetros de Amã, capital da Jordânia, vivia um jovem chamado Ahmad Fadhil Nazzal Al-Khalaylah (posteriormente, ele mudaria o nome para Abu Musab al-Zarqawi), filho de um mukhtar (um sábio do vilarejo, com autoridade para julgar disputas locais) e de uma mulher, Um Sayel, preocupada com os pequenos crimes cometidos pelo filho – leia-se contrabandear bebidas alcoólicas. Na tentativa de evitar que seu Al-Zarqawi escorregasse para o crime, a mãe matriculou o filho, após a morte do marido, em um curso religioso na mesquita Al-Husayin Ben Ali, em Amã. A ideia era colocar o menino nos trilhos.
Eram outros trilhos.
Na mesquita, ele descobriu o salafismo, o câncer incrustado na fé, em sua grande maioria do bem e da paz, islâmica. Para os seguidores do salafismo, a democracia e a modernidade ocidentais não condizem com o Islã – contaminaram a civilização árabe e infectaram regimes apóstatas do Oriente Médio – como Egito, Iraque, Jordânia e Síria. Os salafistas também exigem a jihad, que significa luta – a guerra do ser humano contra o pecado, a morte, a dor, o sofrimento, a desigualdade, a injustiça no Islã – e que, por associação, teria o mesmo significado em qualquer religião. Mas, no caso dos radicais, a jihad significa o direito de matar tudo e todos que não concordam com eles.
Abu Musab al-Zarqawi, o jovem de Zarqa que mal sabia falar seu idioma, o árabe, se tornaria aliado de Osama bin Laden, mas, no futuro, se tornaria mais cruel que o próprio mestre. E um dia criaria o Estado Islâmico, um grupo pior do que a Al-Qaeda, que decapita reféns, explode em Paris e ameaça os Jogos Olímpicos. Saiba como Al-Zarqawi estabeleceu os alicerces do EI na próxima coluna.