
Desde que Donald Trump começou a figurar como favorito a voltar à casa Branca, em meados de 2024, a coluna vem alertando que, se isso ocorresse, a guerra na Ucrânia terminaria. Fim de papo: a Rússia vence, a Ucrânia entrega territórios. Haverá paz, mas ditada por Vladimir Putin.
A lógica é simples, está no cerne do "America First": deixar de ajudar aliados, mesmo que isso comprometa a liderança americana no mundo.
Não é uma novidade. Qualquer olhar mais apurado para a história dos EUA reconhece a dicotomia periódica da política externa americana, que ora é internacionalista/intervencionista, ora é isolacionista. Na primeira categoria, estão presidentes como George W. Bush e Barack Obama, que seguem o ideal de Woodrow Wilson, cujo objetivo é tornar o mundo mais seguro para a democracia. No segundo grupo, estão Andrew Jackson, James Monroe e, claro, Trump. Esses entendem que a América deve fechar-se, focando basicamente em temas domésticos, para manter sua superioridade.
Agora, é claro que, em se falando da maior potência militar e econômica do planeta, essas decisões têm impacto nas relações internacionais. Nesta terça-feira (4), o mundo já começa a sentir os efeitos da suspensão, pelos EUA, da ajuda militar à Ucrânia.
Ora, o país de Volodimir Zelensky só se sustentou de pé, nesses três anos de guerra, graças ao apoio financeiro e bélico do Ocidente em geral e dos americanos em particular. Não só resistiu à agressão de Putin, como chegou a fazer ataques dentro do território russo.
Sem ajuda ocidental, a Ucrânia não teria suportado um só dia de conflito.
Há discordâncias sobre quanto os EUA teriam investido na Ucrânia desde a invasão em 2022 - e o próprio Trump tem inflacionado esses números. Segundo fontes oficiais do governo, esses números oscilam entre US$ 174 bilhões e US$ 182 bilhões. Cerca de US$ 1 bi em armas que deveriam ser entregues nos próximos dias já estão congelados.
Resta à Ucrânia esperar apoio da Europa, que se arma diante do desinvestimento da Casa Branca na política de alianças. Nesta semana, está em discussão a concessão de 150 bilhões em euros em empréstimos para aumentar gastos com defesa no que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, vem chamando de "era do rearmamento".
Na quinta-feira (6), um pacote de 20 bilhões em euros será debatido para a Ucrânia.
Há vários entraves aí:
- O quanto os europeus estão, de fato, dispostos a dar dinheiro para a Ucrânia no momento em que estão preocupados com sua própria segurança?
- O quanto os governos irão conseguir, mesmo, entregar esses recursos, uma vez que dependem da aprovação dos parlamentos nacionais, onde a extrema direita (contrária à UE e desfavorável, de forma geral, à Ucrânia) vem crescendo?
- O quanto as populações dos países apoiaram essas medidas, em meio a onda de inflação entre outros problemas econômicos?
Não é difícil calcular que a Ucrânia está só. E a rendição, próxima.
Vale, no entanto, a ressalva de que Trump pode, como sempre, estar blefando. O que é bem provável. Já fez isso antes e seguirá fazendo ao longo do mandato: a estratégia é forçar Zelensky a assinar um acordo. Dessa forma, não apenas pelos termos de Putin, mas também dele próprio, Trump.
Assim, EUA e Rússia sentam-se no mesmo lado da mesa. Quem fica do outro? A China. A velha estratégia de Richard Nixon pode estar por trás de tudo isso.