Uma vez escrevi que as pessoas dão pistas. Dão sinais o tempo todo. Quando um namoro ou casamento termina, e você chora e protesta porque lhe arrancaram as certezas, porque lhe devastaram a autoestima, porque lhe mostraram uma face horrenda que você nem conhecia, quando isso ocorre a culpa é sua. Porque as pessoas dão pistas o tempo todo, e você pode lê-las ou não.
São sutilezas do dia a dia. O jeito como o outro fala e planeja a própria vida, o jeito como se relaciona com a família e acorda ao seu lado, o jeito como trata você e trata seus amigos, o jeito de encarar o trabalho e lidar com o ciúme, o jeito de se comportar na sua presença e na presença dos outros. Há sinais em tudo isso.
Às vezes, é mais confortável ignorar os sinais ou encará-los como casualidades pouco importantes. Tudo bem, é uma opção. Mas, se mais tarde as certezas desmoronarem, ou se uma face horrenda daquela pessoa brotar de súbito à sua frente, bem, talvez você tenha se enganado mais do que a pessoa o enganou. Entende? Por isso, a culpa é sua.
Outras crônicas de Paulo Germano:
Fobia de fumante
Obrigado, Michel Temer
O prazer de falar mal dos outros
Um bom momento para ler as pistas – embora não seja o único, mas é desse momento que quero falar – é quando tudo parece dar errado. Não precisa ser nada grave. Por exemplo: vocês vão para a praia, mas chove no fim de semana inteiro. Não tem sol, não tem mar, não tem nada de bom que normalmente uma praia oferece, mas tem vocês dois, e isso basta. A "fracassada" viagem acaba perpetuando uma história bem melhor do que se o tempo abrisse:
– Lembra? Passamos o tempo todo transando, ouvindo Beatles, bebendo vinho e jogando stop.
Eis um bom sinal. Talvez aquela seja a pessoa certa para dar tudo errado – o que é ótimo, já que na vida, não raramente, dá tudo errado mesmo. Com a pessoa certa para dar tudo errado, um problema vira oportunidade, vira desculpa para improvisar um sorriso, vira o ensejo ideal para entender que, tudo bem, pelo menos estamos juntos.
Isso pode ocorrer quando uma barata aparece. Ou quando falta luz. Ou quando o dinheiro se esfarela, ou alguém da família adoece – evidente que ninguém vai rir com uma mãe doente, mas há algo melhor do que se sentir confortável e seguro até para chorar? A pessoa certa para dar tudo errado só funciona quando você também é, para ela, a pessoa certa para dar tudo errado. Porque é impossível amenizar um percalço se um dos envolvidos prefere mergulhar nas sombras desse percalço.
Segunda-feira é Dia dos Namorados. E, se você encontrou a pessoa certa para dar tudo errado, saiba que ela encontrou também. Claro que há outros sinais, há outras pistas a serem lidas – pistas que mostram o quanto as certezas que criamos sobre o outro não passam, muitas vezes, só disso mesmo: certezas que nós criamos. Mas um lindo sinal de que tudo vai bem é o sorriso cúmplice da pessoa certa para dar tudo errado.