O significativo desaquecimento da atividade no quarto trimestre, acima do projetado pelo mercado, não tira o brilho do desempenho da economia brasileira em 2024. Ao fim, o PIB teve alta de 3,4%, performance também considerável devido à base de comparação elevada – após 2020, o ano do impacto mais forte da pandemia, o conjunto das riquezas produzidas pelo país avançou 4,8% em 2021, 3% em 2022 e 3,2% em 2023. Deve-se lembrar que, no alvorecer de 2024, estimava-se um crescimento tímido de só 1,5%.
Números do último trimestre começam a contar uma história diferente e dão pistas sobre 2025
Mas os números dos últimos três meses do ano passado, divulgados na sexta-feira pelo IBGE, começam a contar uma história diferente e dão pistas sobre 2025. A alta foi de apenas 0,2% ante o trimestre imediatamente anterior. Chamou atenção a queda de 1% no consumo das famílias, a primeira retração após 13 altas consecutivas.
É de onde podem ser tiradas as explicações para o mal-estar dos brasileiros e a queda da avaliação do governo Luiz Inácio Lula da Silva, a despeito da economia ainda forte, do mercado de trabalho aquecido e da renda em ascensão. É bastante provável que o resultado reflita a aceleração da inflação e a consequente corrosão do poder aquisitivo. Em especial dos alimentos, o que aflige mais as classes baixas, estratos que gastam maior proporção dos ganhos com comida. Junto ao repique inflacionário veio um novo ciclo de alta do juro, o que torna o crédito mais caro, agrava a situação financeira das famílias e ao longo do tempo retira fôlego da economia.
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), explicita o mau humor. Desde novembro do ano passado, o indicador caiu de forma acentuada de 94,4 para 83,6 pontos, o menor nível desde agosto de 2022, quando a inflação também era a preocupação número 1. Para apurar o ICC, a FGV faz uma sondagem sobre a situação presente e sobre as expectativas. São especialmente as perspectivas futuras que estão derrubando a confiança dos brasileiros, notadamente os de menor poder aquisitivo. É para reverter esse quadro que o governo federal apresentou na quinta-feira medidas que tentam baratear o preço dos alimentos, com a retirada de impostos de importação. O efeito será ínfimo, mas ao menos o Planalto pode propagandear que não está inerte.
Mas, como dito antes, 2024 reservou boas surpresas. Uma delas foi a alta do investimento, de 7,3%. A dúvida é como se comportará esse componente com a escalada do juro. São interrogações que alimentam as incertezas sobre o PIB em 2025. Espera-se um bom primeiro trimestre devido ao desempenho da agropecuária, que recuou 3,2% em 2024, mas agora tende a puxar a economia, pela recuperação da safra de grãos. A incógnita permanece para o restante do exercício. O Ministério da Fazenda projeta alta de 2,3% da atividade em 2025. Os analistas de mercado, mostra o Boletim Focus, do Banco Central, apostam em 2%. A conferir, portanto, se a falta de confiança se materializará em uma desaceleração forte da economia ou outra vez, como nos últimos três anos, o PIB surpreende.