A Emater confirmou ontem que o Estado terá mais uma safra de verão frustrada. A exceção será o arroz, cultura tradicionalmente irrigada por inundação. Mais do que comparar com o ciclo anterior, afetado em menor grau pelo clima, deve-se cotejar os números agora projetados com os estimados ainda no ano passado, que demonstravam o potencial de produção caso o rendimento esperado se confirmasse.
Ainda há muito o que avançar para o Rio Grande do Sul se adaptar e aprender a conviver com as estiagens frequentes
A safra 2024/2025 – incluindo soja, milho, feijão e arroz – deve chegar a 28 milhões de toneladas, apenas 6,6% abaixo do volume obtido no ano passado, aponta o levantamento apresentado na Expodireto, em Não-Me-Toque. Mas se o clima ajudasse e a produtividade fosse a inicialmente calculada, o Rio Grande do Sul poderia estar celebrando uma colheita de 35 milhões de toneladas, com uma série de reflexos positivos no PIB, na renda do campo, na indústria e no comércio das regiões agrícolas. A quebra, portanto, chega a 20%.
As perdas são mais severas na soja, justamente a cultura de maior importância econômica para o Estado. De acordo com a Emater, a produção será de 15 milhões de toneladas, 30% abaixo do potencial estimado quando os agricultores planejavam as lavouras. O mais grave é que não se trata de um revés pontual. Olhando-se para as últimas cinco safras de verão, apenas a de 2020/2021 não foi impactada negativamente em algum grau pelo clima, notadamente estiagens. Como os preços aos produtores não estão no melhor momento, o desfecho inevitável é uma perda de faturamento significativa. Os compromissos financeiros, porém, batem à porta, faça chuva ou sol, o que tem levado a um endividamento progressivo. É possível que, ainda durante a Expodireto, surjam avanços sobre a pauta que trata do alongamento desses débitos acumulados.
Menos preocupante é a avaliação sobre o milho, cultura de grande importância por ser o principal componente das rações, essenciais para o setor de proteína animal. Ainda que exista perda de produção ante o inicialmente estimado (cerca de 10%), a safra esperada de 4,78 milhões de toneladas será ao menos 6% maior do que a obtida no ciclo 2023/2024. Na orizicultura, conforme o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), as notícias são boas para agricultores e consumidores. A expectativa é colher 8,1 milhões de toneladas, acima da produção do ano passado e da primeira estimativa para a cultura.
O balanço da safra volta a demonstrar o quanto o Estado está exposto a estiagens. A falta de chuva no verão tem sido recorrente e voltará a ocorrer. Isso reforça a importância de aumentar a área irrigada, junto a outras estratégias, como um manejo do solo que permita maior retenção de umidade, além do prosseguimento dos esforços para o desenvolvimento de cultivares mais resistentes à seca. O governo gaúcho apresentou na Expodireto medidas para facilitar a outorga do uso da água. Espera-se que contribuam para elevar a quantidade de lavouras dependentes da água da chuva no futuro. Mas não basta. Existem outros gargalos, como a falta de energia adequada nas zonas rurais para os sistemas de irrigação. Ainda há muito o que avançar para o Rio Grande do Sul se adaptar e aprender a conviver com as estiagens frequentes.