Na última sexta-feira, enquanto os gaúchos contavam as horas para o fim da quarta onda de calor de 2025, com temperaturas próximas de 40º em alguns pontos do Estado, a cidade argentina de Bahía Blanca, ao sul da província de Buenos Aires, era arrasada por uma chuvarada histórica. Em poucas horas as precipitações superaram 350 milímetros, volume esperado para meio ano. As inundações causaram ao menos 16 mortes, desalojaram cerca de 1,4 mil pessoas e provocaram prejuízos calculados em US$ 400 milhões.
Foi esse, em linhas gerais, o espírito do apelo à comunidade internacional lançado ontem pelo presidente da COP30
São dois episódios que ilustram a crise climática vivida pela humanidade e mostram a urgência de começarem a ser colocados em prática os planos de mitigação e adaptação ao aquecimento global e a suas consequências. Foi esse, em linhas gerais, o espírito do apelo à comunidade internacional lançado nesta segunda-feira pelo presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, em carta inaugural de sua atuação à frente da conferência do clima que será realizada em novembro, em Belém (PA).
Corrêa do Lago faz um chamamento à formação de um “mutirão” na luta contra as mudanças climáticas. De fato, a magnitude do desafio exige um engajamento em grande escala na proteção do meio ambiente e na transição energética, não só dos governos, mas do mundo corporativo e da sociedade civil, somando iniciativas estruturantes e pequenas atitudes.
O tempo para agir se torna mais escasso. O ano de 2024 foi o mais quente já registrado. A temperatura média do planeta chegou a 1,5ºC acima dos patamares da era pré-industrial, o limite estabelecido pelo Acordo de Paris em 2015. Os cenários mais sombrios projetados para décadas à frente pelos cientistas já se materializam na forma de secas inclementes combinadas com altas temperaturas e chuvas volumosas que causam inundações e enxurradas nos quatro cantos do planeta. “A mudança do clima não está mais contida na ciência e no direito internacional. Ela chegou à nossa porta, atingindo nossos ecossistemas, cidades e vidas cotidianas. Da Sibéria à Amazônia, de Porto Alegre a Los Angeles, ela agora afeta nossas famílias, a saúde, o custo de vida e nossas rotinas de educação, trabalho e entretenimento”, diz trecho da carta de Corrêa do Lago, citando a capital gaúcha, mas também aspectos do cotidiano vivenciado pelos gaúchos nos últimos dias e meses.
A conjuntura internacional não é das mais favoráveis ao comprometimento exigido. A aversão ao multilateralismo e a decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de outra vez tirar o país do Acordo de Paris dificultam o mutirão invocado e ameaçam os avanços esperados para a COP30. Enquanto a descarbonização deveria ser a principal agenda global, guerras e disputas comerciais tomam tempo e energia dos líderes mundiais. Mas o tempo para agir e cooperar é agora. Espera-se que o apelo que norteará a preparação para a COP30 seja ouvido e os países concordem em ser mais ousados em seus compromissos para reduzir as emissões de gases causadores de efeitos estufa. Da mesma forma, chega a hora de tirar do papel o plano traçado na COP29 de financiamento de ações climáticas para os países em desenvolvimento, oriundo de fontes públicas e privadas.