Paira certo desapontamento, em qualquer governo, quando um ministro de perfil técnico é demitido e substituído por um político profissional. Frustra-se a expectativa de que um conhecedor da área seria mais capaz de fazer uma gestão voltada à melhor solução dos problemas que afligem a população. É o caso de Nísia Trindade, dispensada do comando da pasta da Saúde na semana passada e substituída pelo deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), que deixa a Secretaria de Relações Institucionais e toma posse no novo cargo na segunda-feira. Nísia era pesquisadora da Fiocruz desde 1987 e teve uma passagem elogiada como presidente da fundação, entre 2017 e 2022.
Alexandre Padilha, novo ministro, terá de apresentar resultados palpáveis, perceptíveis pela população
A despeito do currículo respeitável, o fato é que Nísia deixou a desejar no timão do ministério. A saúde é uma das maiores preocupações dos brasileiros. A pasta, portanto, cuida de um dos aspectos mais relevantes da vida da população, em especial da que depende do Sistema Único de Saúde (SUS).
O número de casos e de mortes por dengue explodiu no país em 2024. A gestão de vacinas, para as mais variadas doenças, também foi problemática. Apenas em 2023, quase 60 milhões de doses venceram e foram descartadas, sem uso. Ao mesmo tempo, Estados e municípios queixavam-se da falta de vacinas para diversas enfermidades. Internamente, Nísia ainda era criticada por não conseguir fazer deslanchar o programa Mais Acesso a Especialistas, voltado a ampliar oferta de consultas, exames e cirurgias e diminuir a longa espera dos que só podem recorrer ao SUS.
O desafio de Padilha será dar respostas mais rápidas a essas urgências. Mesmo político, ao menos o petista não é neófito. É médico e ocupou a pasta no governo Dilma Rousseff, entre 2011 e 2014. Assegura que será "obsessão" reduzir a torturante fila de espera do SUS. Com a popularidade em queda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta uma reviravolta na saúde para recuperar a aprovação. Nísia, é verdade, não tinha o tino marqueteiro _ o que não é demérito _ e era pouco afeita a estardalhaços na divulgação dos programas do ministério. Mas não será com espuma e alarde que Lula reverterá o mau humor das ruas. Padilha terá de apresentar resultados palpáveis, perceptíveis pela população, se quiser transformar o Mais Acesso a Especialistas em marca e trunfo para o governo. Um exame, uma consulta ou um cirurgia que não ocorram no tempo certo costumam levar ao agravamento do quadro de saúde e, no limite, como nos casos de câncer, à redução drástica das chances de cura.
Será sua tarefa, também, melhorar a gestão das vacinas e reforçar as ações de combate à dengue. No último ato de Nísia, na terça-feira da semana passada, foi anunciado que o país terá, em 2026, cerca de 60 milhões de doses de uma vacina nacional de aplicação única contra a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. A imunização, assim, poderá começar a se tornar a principal estratégia para conter a doença, o que também dependerá de uma campanha eficiente de conscientização para a população buscar a proteção oferecida contra a enfermidade que vitimou 6 mil brasileiros em 2024.