Por que os jogadores de futebol tiram a camisa depois de marcar um gol? Ainda que tal atitude, do ponto de vista psicológico, possa ser classificada como “impulso emocional”, não deixa de ser uma estultice: o atleta sabe que não deve fazer aquilo, sabe que vai prejudicar sua equipe e que será punido sumariamente pela regra estabelecida com o conhecimento e anuência de todos. É a advertência com cartão amarelo mais tranquila para o árbitro, pois nem os torcedores mais apaixonados vão protestar. A regra — nesse caso específico — é realmente clara e todos se conformam com a sua aplicação.
Porém, tirar a camisa e jogá-la para o alto num momento de euforia não deixa de ser uma simples manifestação de liberdade de expressão, como tantas outras protegidas pelas normas constitucionais do país. Ninguém pode impedir que o sujeito se desfaça de parte do seu uniforme de jogo, mesmo que seja uma desconsideração ao clube que paga seu salário e um desrespeito a eventuais patrocinadores, que perdem a oportunidade de ter suas marcas expostas no momento de maior visibilidade do goleador.
O que se pode fazer posteriormente — o árbitro, o clube, o patrocinador, todos que se julgam prejudicados — é punir o suposto infrator. A punição, previamente combinada, tem como propósito a reparação e a dissuasão, para que o “delito” não se repita e para que outros não façam o mesmo. A advertência aplicada pelo árbitro, porque o meio strip-tease retarda o recomeço do jogo e desrespeita o público, tem consequências futuras, podendo inclusive se transformar em suspensão para o jogador. As multas pecuniárias que alguns clubes aplicam têm, adicionalmente, um propósito reparador.
Por isso a tal liberdade de expressão, que provoca tanto debate nesses nossos tempos polarizados, precisa estar siamesamente associada à responsabilidade individual. Você pode dizer o que quiser, escrever o que lhe der na cabeça, mas tem que saber que será responsabilizado pelo que fizer. Se quiser ofender alguém ou alguma instituição, ofenda! Mas não tente ludibriar a legislação e a inteligência dos demais cidadãos para escapar de uma eventual responsabilização. Numa democracia, quando as regras são claras, ninguém pode ter imunidade para ofender, mentir, vilipendiar e jogar a civilidade para o alto como se nada mais importasse.