
A apresentação do projeto que isenta de Imposto de Renda (IR) os salários de até R$ 5 mil foi recheada de simbolismos sobre o futuro do governo e a relação do Executivo com o Congresso.
A medida é a principal aposta do presidente Lula para o atual mandato, tendo em vista o potencial de beneficiar a classe média. Mas o avanço da proposta depende diretamente do apoio dos parlamentares.
Para reduzir resistências e dar protagonismo ao Congresso, Lula fez a apresentação do projeto em um evento destinado exclusivamente a deputados e senadores, com a presença de lideranças do centrão. Apelou para que eles entendam que a busca por justiça fiscal não irá gerar resultados apenas para o governo, mas marcará a trajetória de cada parlamentar.
A necessidade da mudança na forma de cobrar o imposto sobre a renda, disse Lula, pode ser percebida nos números. A isenção beneficiaria 10 milhões de pessoas, enquanto a taxação de lucros e dividendos superiores a R$ 50 mil mensais afetaria 141 mil brasileiros.
Lula sublinhou exemplos práticos de como trabalhadores são beneficiados com a medida. Citou o caso de motoristas, autônomos, enfermeiros e professores, que deixariam de pagar IR ou teriam a alíquota reduzida (no caso de salários entre R$ 5 mil e R$ 7 mil).
Apesar de despertar críticas na oposição, a taxação de lucros e dividendos já foi defendida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que não conseguiu avançar com o tema em seu governo. A ideia era basicamente a mesma: compensar uma isenção maior de IR com a taxação de lucros e dividendos.
Nas últimas semanas, o governo tenta se descolar da imagem de "taxador", algo explorado pela oposição e por críticos em redes sociais.
A primeira medida foi determinar a isenção das tarifas de importação de alimentos. Agora, apesar de incluir o aumento na cobrança para brasileiros de alta renda, o projeto é divulgado como uma maneira de reduzir os impostos pagos pelos trabalhadores.
Lula começa a buscar aproximação com o Congresso após várias queixas de lideranças sobre o suposto isolamento do presidente neste terceiro mandato. A presença de lideranças do centrão no evento evidencia que ainda há disposição de partidos de centro para estreitar os laços com o governo, mas também mostra as primeiras reações ao trabalho da ministra Gleisi Hoffmann.
Há poucos dias como titular da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi fez uma rodada de conversas com deputados e senadores e pediu votos de confiança. Além de organizar o terreno para o projeto do IR ser bem recebido, ela tem a difícil missão de melhorar a relação com os partidos da base.