Os acordos entre lideranças do Congresso e caciques dos partidos viabilizaram eleições de consenso e permitem neste momento que todo mundo cante vitória — do governo à oposição, passando pelos grupos que se consideram independentes.
As escolhas de Davi Alcolumbre (União-AP) para presidir o Senado e de Hugo Motta (Republicanos-PB) para o comando da Câmara mostram um Legislativo cada vez menos dependente do Executivo e que agora se fortalece para defender interesses comuns dos parlamentares.
Ciente da fragilidade de sua base e pleno conhecedor dos bastidores do poder, o presidente Lula sabia da inviabilidade de ter um candidato próprio, mas conseguiu influenciar já no início das negociações.
Para o governo, um dos principais méritos do petista foi evitar que Arthur Lira (PP-AL) exercesse uma força desproporcional na definição de seu sucessor. Em uma articulação com caciques do centrão, Lula ajudou a construir a candidatura de Motta, que logo precisou ser acatada por outros grupos.
Apesar de o PL ter a maior bancada da Câmara e de parlamentares de outros partidos sinalizarem apoio a um nome mais ligado à direita, o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro não demorou a aderir à candidatura de consenso. A decisão passou especialmente pelo presidente da sigla, Valdemar Costa Neto.
No Senado, a estratégia do PL foi parecida. A derrota de Rogério Marinho (PL-RN) na disputa da presidência com Rodrigo Pacheco (PSD-MG) em 2023 deixou lições.
Garantir apoio na arrancada a Alcolumbre deu ao partido do ex-presidente espaço expressivo na nova gestão, além de ampliar as chances de avanço em pautas mais conservadoras.
Atento ao poder que Alcolumbre exerce há anos nos bastidores do Senado, Lula garantiu a ele um amplo espaço na Esplanada já no início do governo. Agora, portanto, pode dizer que está satisfeito com a vitória de um aliado, assim como Bolsonaro e as lideranças dos principais partidos.
Ninguém sai mais vitorioso na renovação, contudo, que o Congresso como poder da República. Unidos, os grupos políticos terão mais força para enfrentar o Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os limites de atuação de cada um. Uma das principais pautas dos congressistas, a liberação no pagamento de emendas bilionárias será a primeira disputa.