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A denúncia apresentada pelo procurador-geral da República (PGR), Paulo Gonet, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 33 pessoas esmiúça a estrutura da trama golpista, que antes já havia sido bem detalhada no inquérito policial. O documento remetido ao Supremo Tribunal Federal (STF) reforça que Bolsonaro só não levou adiante o plano golpista por falta de apoio das Forças Armadas, especialmente do Exército. Não foram poucas as tentativas de convencer comandantes militares a impedirem a posse de Lula, o presidente eleito em 2022.
Um dos avanços da denúncia em relação ao inquérito da Polícia Federal (PF) é sobre revelações do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid. O documento afirma que, no contrato de delação premiada, o militar afirmou que Bolsonaro pediu o monitoramento do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que era alvo de um plano que poderia culminar com o seu assassinato.
A denúncia afirma que Bolsonaro deu anuência a este plano, que ainda envolvia o monitoramento e um possível atentado contra Lula. A PGR sublinha que a empreitada não foi levada adiante porque as negociações que ocorriam em paralelo, de buscar apoio junto à cúpula militar, não progrediram.
Com base em um grande volume de mensagens capturadas, documentos apreendidos, depoimentos, cruzamento de dados e revelações do acordo de colaboração de Mauro Cid, a PGR seguiu um roteiro já estabelecido pela PF para demonstrar que o ambiente para justificar o rompimento democrático e impedir a posse de Lula começou muito antes da derrota nas urnas, por meio de uma campanha coordenada de divulgação de notícias falsas sobre as urnas eletrônicas.
A ação foi mais intensa nos meses de novembro e dezembro. Logo após o resultado eleitoral, o ex-presidente se isolou no Palácio da Alvorada e recebia poucas visitas. O que as investigações mostraram é que muitos dos encontros com militares e ministros de sua confiança ocorriam fora da agenda, e que a dedicação de Bolsonaro era quase exclusiva à execução do plano.
Na noite desta terça-feira (18), poucos minutos após a divulgação da íntegra da denúncia, que possui 272 páginas, o deputado federal Luciano Zucco (PL-RS), líder da oposição na Câmara, afirmou que “tal denúncia carece de fundamentação jurídica sólida e parece estar alicerçada em interpretações subjetivas”. Será difícil para a defesa de Bolsonaro, no entanto, convencer a Justiça de que o ex-presidente não estava à frente de boa parte da trama golpista.