
Revirem as gavetas, encontrem projetos e entregas que possam ser exaltadas e marquem uma divulgação. A ordem do presidente Lula é dar mais visibilidade a realizações do seu mandato, e reverter a queda de popularidade ampliando comparações com o governo de Jair Bolsonaro. A segunda metade do governo será de mais pragmatismo. Assim como ocorreu no Ministério da Saúde, indicações técnicas darão lugar a perfis políticos, se necessário.
Orientado pelo ministro da Secretaria de Comunicação, o marqueteiro Sidônio Palmeira, Lula passou a falar mais com a população nas últimas semanas, seja por meio de entrevista, vídeos em redes sociais e agendas pelo país. Este roteiro será intensificado.
Diante das pesquisas que mostram queda em seu ativo eleitoral, Lula também pretende tirar do papel a reforma ministerial estudada desde o ano passado. Trazer novos aliados e consolidar apoio de partidos que já estão na base é questão de sobrevivência. As mudanças devem ser mais pragmáticas, desconsiderando questões técnicas ou de mérito que foram levadas em conta no início do mandato.
O que ainda tira o sono de auxiliares do petista é como o governo conseguirá melhorar algo que está no centro dos problemas: a queda do poder de compra da população.
É perceptível que boa parte do desgaste do governo vem da inflação, sobretudo dos alimentos. Reuniões e mais reuniões desde o final do ano passado não apontaram um caminho claro de iniciativas que possam ajudar a diminuir o preço do café, do ovo, da carne. E a população sempre vai esperar providências do presidente da República, ainda mais quando a eleição foi marcada pela promessa de picanha mais barata e dinheiro no bolso dos mais pobres.
De fato, é impossível esperar um milagre para problemas que estão além do alcance do governo, como a quebra de safra em outros países. Mas a estabilidade do dólar, o controle da inflação e o patamar de juros estão diretamente ligados à gestão do Planalto. Além de não indicar uma saída para reduzir fatores que pesam na composição de preços, Lula deu um tiro no pé ao sugerir aos consumidores que não comprem o que está caro.
Por tudo isso, é difícil acreditar que bastará a Lula intensificar agendas, propagandear iniciativas do governo ou ampliar o apoio político partidário. A aprovação do governo só irá melhorar se a população sentir que sua vida está melhor. E isso não será garantido com eventos, discursos ou vídeos nas redes sociais.