O novo comando do Congresso foi acertado em um amplo acordo, que envolveu o governo Lula e a oposição, e será apenas formalizado nas eleições marcadas para este sábado (1º). Isso não significa que a relação seguirá com o Planalto seguirá como está. O futuro presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), foi alçado ao posto com o apoio do atual ocupante da cadeira, Arthur Lira (PP-AL). No Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) também costurou a sucessão com o atual presidente, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Mas, além da diferença de perfil dos substitutos, é preciso considerar o novo contexto político, a proximidade das eleições e o clima hostil na relação do Congresso com o Supremo Tribunal Federal (STF).
Na Câmara, lideranças da base governista reconhecem nos bastidores que o fato de Motta ser gentil no trato e exibir um histórico de alinhamento às pautas prioritárias do Planalto não significa que ele tornará a articulação com o Executivo mais fácil. Além do apoio quase unânime dos partidos em torno de seu nome carregar uma série de compromissos, o novo presidente é considerado um exemplar clássico do “centrão raiz”, que dará sequência aos embates com o Executivo e o STF para garantir o pagamento exorbitante de emendas e ampliar cada vez mais o poder institucional do Legislativo.
A mudança de rumo pode ser mais importante no Senado. Alcolumbre tem boa relação com o governo, apadrinhou na Esplanada o ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, e teve uma série de facilidades com o Executivo nos últimos dois anos. Contudo, sempre manteve uma relação mais estreita com grupos de oposição, tem um temperamento mais difícil e é considerado entre os pares como alguém mais disposto a ceder a pautas populistas, como a abertura de impeachment contra ministros do STF.
Apesar de contar com a habilidade e experiência do senador Jaques Wagner (PT-BA) como líder, o governo identificou o risco de não conseguir barrar projetos da oposição na Casa. Inclusive, o retorno de ministros que têm mandato de senador está sob análise de Lula. Seria uma forma de reforçar a linha de defesa do governo.
A eleição do Senado neste ano também guarda diferenças com a de 2023. A escolha de Pacheco pelos senadores veio com apoio decisivo do governo, diante de uma disputa com o líder da oposição, Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro de Jair Bolsonaro. Agora, o partido do ex-presidente decidiu se alinhar desde cedo a Alcolumbre, garantiu mais espaço em comissões importantes e tem expectativa de avançar em pautas conservadoras.
O contexto político dos próximos dois anos também será determinante sobre a relação. Lula poderá ter mais dificuldade para negociar com o Congresso se a avaliação popular de seu governo continuar em queda. Afinal, Motta e Alcolumbre estarão de olho na estratégia de seus partidos, nas alianças regionais e no papel que irão desempenhar para facilitar ou dificultar a reeleição de Lula.