O futuro da política externa do governo dos Estados Unidos e o eventual recrudescimento de medidas protecionistas é bem mais importante para o Brasil do que a disputa ideológica que aproxima lulistas dos democratas e bolsonaristas dos republicanos. No primeiro semestre deste ano, a exportação para os norte-americanos alcançou o valor recorde de US$ 19,2 bilhões, aumento de 12% em relação ao mesmo período do ano anterior. Neste caso, coincide com o alinhamento entre os mandatários dos dois países, mas é resultado principalmente de uma relação diplomática sólida que já dura 200 anos.
Com desafios internos na Economia e pressionados pelo aumento da imigração, os Estados Unidos colocaram medidas nacionalistas na pauta do dia. Muito além da disputa com a China, há medidas que podem impactar diretamente na indústria e na agropecuária brasileiras. Especialmente porque a expansão das trocas bilaterais contribui de forma decisiva nos últimos anos para a trajetória positiva do comércio exterior brasileiro.
O governo Lula não esconde a preferência por Kamala Harris, mas a orientação no Itamaraty é manter o distanciamento e evitar uma postura que no futuro possa influenciar nos negócios. Por isso, o ex-chanceler Celso Amorim, que hoje é chefe da assessoria especial da Presidência da República, já enfatizou que, apesar da simpatia do governo brasileiro pela democrata, “é o povo americano que decide”.
A postura do governo petista é semelhante à que foi adotada junto à Argentina. Lula tinha ampla preferência pelo candidato de Alberto Fernández, mas evitou ataques a Javier Milei durante a campanha. Com a vitória do líder de direita, busca até hoje uma aproximação por via diplomática, apesar de o argentino ataca-lo publicamente.
O pragmatismo sempre fez bem à política externa brasileira. E Lula vai acertar em cheio se deixar a disputa dos americanos ser discutida e decidida entre eles.