
Nesta segunda-feira (14), primeiro dia útil depois do anúncio oficial do fim do "cepo cambiario" pelo governo Milei – conjunto de restrições de transação com moeda estrangeira –, a cotação do dólar salta cerca de 12,1%, para 1,2 mil pesos argentinos. Isso que a primeira fase da flutuação cambial é controlada, com teto de 1,4 mil. É o mesmo sistema de bandas cambiais que o Brasil adotou de março de 1995 até janeiro de 1999 – e terminou com uma crise.
A disparada da manhã desta segunda é o efeito líquido, até agora, do acordo anunciado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que emprestou mais US$ 20 bilhões à Argentina com a condição de retirada do instrumento que amarrava operações internacionais. A cotação foi para o patamar que havia alcançado quando houve o primeiro sinal de que o acordo envolveria essa regra.
Claro, o FMI deu as condições: o valor resgata o Banco Central da República Argentina (BCRA, o BC do país do tango), que estava com reservas internacionais negativas – devia mais dólares do que tinha para bancar operações cambiais. O cepo existia exatamente para não deixar o BCRA ainda mais frágil. Só saía dólar na medida que entrava.
O acordo prevê que, nesta primeira fase, o dólar flutue entre o mínimo de 1 mil e o máximo de 1,4 mil. O plano é que, a cada mês, esse intervalo suba 1% – ou seja, em maio, o mínimo será de 1.010 e o máximo, de 1.414 pesos, e assim sucessivamente. É uma tentativa de fazer uma saída ordenada do sistema que vigorava anteriormente, chamado "crawling peg", que prevê desvalorizações mais graduais.
A mudança de regras também permite que acionistas estrangeiros remetam lucros para o Exterior, mas a partir do final deste ano. Vai dar certo? O sistema de bandas cambiais não tem bom retrospecto – também foi usado pela então Comunidade Econômica Europeia, embrião da União Europeia, entre 1972 e 1979. Se durar ao menos três anos, como no Brasil, ou até cinco, como na Europa, será boa notícia.
Especialistas no mercado argentino ouvidos pelo jornal Ámbito, especializado em finanças, projetam desvalorização do dólar no curto prazo em 15%.