
Como a coluna registrou, na segunda-feira (7) havia circulado no mercado a informação de que a Casa Branca teria adiado por 90 dias o início da vigência das chamadas "tarifas punitivas", as que passam de 10% – como no caso do Brasil e dezenas de países.
O índice mais abrangente da bolsa de Nova York, o S&P 500, chegou a subir 7%. Mas quando parecia uma chance de recuperação das pesadas perdas, a administração Trump afirmou que se tratava de "fake news". Nesta quarta-feira (9), veio a confirmação feita por Trump em sua própria rede social: o tarifaço será suspendido por 90 dias, com exceção da China. E agora, em vez de 104%, os chineses terão de pagar 125% em todos os produtos que vendem aos Estados Unidos.
As bolsas americanas reagiram imediatamente: poucos minutos depois, o índice mais tradicional (Dow Jones Industrial Average ou DJIA) salta 6,5%, o mais abrangente (S&P 500) dispara 6,5% e a Nasdaq, de tecnologia, decola 8,2%.
Depois do desmentido da Casa Branca, na segunda-feira, a CNBC, que havia publicado a informação, pediu desculpas. Será que agora a rede de TV que deu um dos furos mais históricos receberá alguma satisfação? É pouco provável. Mais do que a relação de Trump com a imprensa, que já não é boa, está em jogo aqui o respeito não com o intermediário, mas como o cidadão que tem o direito de ser bem informado.
Com o desmentido e o adiamento do plano – nestes tempos, logo mais se saberá se havia plano de anunciar na segunda-feira ou não –, o mundo viu se esfumarem nas bolsas mais alguns bilhões de dólares. O mundo ficou mais pobre porque a Casa Branca manipulou a informação.
Os impactos possíveis
Antes do anúncio oficial, bancos, universidades e órgãos de financiamento de exportações fizeram projeções sobre o impacto do tarifaço de Trump. Cada um adotou um cenário diferente para o aumento das alíquotas. A coluna está mantendo, no final dos textos sobre o tarifaço de Trump, os principais pontos, mas adverte: o anúncio, concordam os especialistas, foi pior do que o esperado e tornou os cenários traçados benignos frente ao potencial de prejuízos.
1. Goldman Sachs, uma das maiores instituições financeiras dos EUA, com aumento de 15 pontos percentuais neste ano: aumento na probabilidade de recessão de 20% para 45% (atualizada no dia 7 de abril), alta no índice de inflação mais observado pelo Fed de 3,5% (a meta lá é de 2% ao ano).
2. Laboratório de Orçamento da Universidade de Yale, com elevação de 13% na tarifa efetiva dos EUA: aumento de preços entre 1,7% e 2,1%, redução entre 0,6 e 1 ponto percentual no PIB e perdas de US$ 1 mil a US$ 1,3 mil para as famílias americanas.
3. Instituto das Economias em Desenvolvimento, ligado à Organização de Comércio Exterior do Japão (Jetro, na sigla em inglês), com tarifas de 25% dos EUA: queda de 0,6% no Produto Interno Bruto (PIB) mundial em 2027 (perda de US$ 763 bilhões), puxado por tombo de 2,7% no PIB americano de 2027 e forte impacto nos lucros de empresas americanas que dependem de componentes chineses.
4. Universidade Aston (Reino Unido), com tarifas de 25% sobre todas as importações, seguidas de retaliações na mesma alíquota: perda de US$ 1,4 trilhão na economia mundial e drástica elevação de preços nos EUA. Teria efeitos semelhantes ao da guerra comercial de 1930 que aprofundou a Grande Depressão.