
No dia em que a bolsa de Hong Kong teve a maior perda diária em 28 anos – em parte, porque foi feriado lá na sexta-feira (4), teve até "era só o que faltava". No final da manhã, as bolsas americanas passaram a moderar as quedas e chegaram até a virar e a subir.
Mas o que aconteceu? Como o mercado precisava desesperadamente de uma boa notícia para fazer negócios, apostou em uma fake news: a Casa Branca teria adiado por 90 dias o início da vigência das chamadas "tarifas punitivas", as que passam de 10% – como no caso do Brasil e dezenas de países –, que já entraram em vigor no sábado.
O índice mais abrangente da bolsa de Nova York, o S&P 500, chegou a subir 7%. Mas quando parecia uma chance de recuperação das pesadas perdas, a administração Trump avisou: não haverá adiamento no cronograma que prevê entrada em vigor de tarifas de até 50% na quarta-feira (9). E as bolsas americanas voltaram ao vermelho.
O episódio mostra o tamanho do caos instalado nos mercados com as sucessivas comunicações da Casa Branca. Nas bolsas europeias, onde aparentemente a fake news não chegou, as quedas permanecem entre 4% e 5% pelo terceiro dia seguido. Mais perto de quatro na Alemanha, mais perto de 5% em Paris.
E ainda evidencia o tamanho do erro de Donald Trump. Não é apenas uma tática equivocada, mas implantada com amadorismo tal que já acumulou perdas de US$ 6,6 trilhões nos Estados Unidos.
É até difícil imaginar quanto tempo levaria, caso esse plano irracional desse certo, para recuperar um volume de investimento desse tamanho. E se levaria. Esse é o pior do plano de Trump: se der certo, vai dar errado.
Os impactos possíveis
Antes do anúncio oficial, bancos, universidades e órgãos de financiamento de exportações fizeram projeções sobre o impacto do tarifaço de Trump. Cada um adotou um cenário diferente para o aumento das alíquotas. A coluna está mantendo, no final dos textos sobre o tarifaço de Trump, os principais pontos, mas adverte: o anúncio, concordam os especialistas, foi pior do que o esperado e tornou os cenários traçados benignos frente ao potencial de prejuízos.
1. Goldman Sachs, uma das maiores instituições financeiras dos EUA, com aumento de 15 pontos percentuais neste ano: aumento na probabilidade de recessão de 20% para 45% (atualizada no dia 7 de abril), alta no índice de inflação mais observado pelo Fed de 3,5% (a meta lá é de 2% ao ano).
2. Laboratório de Orçamento da Universidade de Yale, com elevação de 13% na tarifa efetiva dos EUA: aumento de preços entre 1,7% e 2,1%, redução entre 0,6 e 1 ponto percentual no PIB e perdas de US$ 1 mil a US$ 1,3 mil para as famílias americanas.
3. Instituto das Economias em Desenvolvimento, ligado à Organização de Comércio Exterior do Japão (Jetro, na sigla em inglês), com tarifas de 25% dos EUA: queda de 0,6% no Produto Interno Bruto (PIB) mundial em 2027 (perda de US$ 763 bilhões), puxado por tombo de 2,7% no PIB americano de 2027 e forte impacto nos lucros de empresas americanas que dependem de componentes chineses.
4. Universidade Aston (Reino Unido), com tarifas de 25% sobre todas as importações, seguidas de retaliações na mesma alíquota: perda de US$ 1,4 trilhão na economia mundial e drástica elevação de preços nos EUA. Teria efeitos semelhantes ao da guerra comercial de 1930 que aprofundou a Grande Depressão.