
Na antevéspera do 2 de abril, o "libaration day" de Donald Trump, bolsas caíram mundo afora e moedas de países emergentes perderam força ante o dólar. Mas o câmbio andou na contramão da manada: o dólar caiu 0,93% ante o real e fechou em R$ 5,706, por um triz não saindo do patamar de R$ 5,70.
Entre analistas, a principal explicação é o fato de ser o último dia útil do mês, quando se forma a Ptax, taxa de câmbio que ancora contratos de longo prazo. As apostas de que um dólar mais fraco predominaram.
Assim como disse não ter a menor preocupação com o provável aumento de preço dos veículos para os americanos, o presidente dos EUA não tentou colocar nem curativo para estancar a sangria nas bolsas internacionais. Fez questão de negar que as "tarifas recíprocas" serão restritas a países que têm mais superávit nas trocas comerciais, como circulou na semana passada.
— Começaria com todos os países, e vamos ver o que acontece. Não ouvi nenhum boato sobre 15 países, 10 ou 15 — disse nesta segunda-feira (31), antevéspera da adoção de medidas.
Trump ainda insistiu que as alíquotas adicionais levarão em conta barreiras não-tarifárias em outros países, sem detalhar como será feito o cálculo nem definir uma data para essa outra tática comercial:
— Vamos ser muito mais gentis do que eles foram conosco, mas é dinheiro substancial para o país.
As bolsas europeias tiveram quedas acentuadas, acima de 1%, como a alemã Dax (1,33%) e a francesa CAC (1,58%), mas nada perto do tombo de 4,05% da japonesa Nikkei. No Brasil, a queda também passou de 1%, mas a B3 costuma ter variação mais intensa do que os pregões de países desenvolvidos.
O Brasil compra mais dos EUA do que vende para o país de Trump, mas mesmo assim pode ser afetado. O maior risco é relacionado às barreiras não-tarifárias impostas a importações. Em produtos, o etanol pode ser o mais afetado. O biocombustível americano feito de milho paga 18% para entrar aqui, enquanto o nacional produzido com cana-de-açúcar tem tarifa de 2,5% lá.
O governo brasileiro intensificou os contatos com o governo americano nos últimos dias, e estava previsto para esta segunda-feira (31) um telefonema previsto entre o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira e o chefe do United States Trade Representative (USTR, princpal órgão de comércio internacional dos EUA), Jamieson Greer. Um dos principais objetivos é obter uma quantia mínima (cota) para que o aço brasileiro mantenha o tratamento atual, tal como foi negociado no primeiro mandato de Trump.