![Ahmad Gharabli / AFP Ahmad Gharabli / AFP](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/1/3/2/4/5/2/4_e00f1fdb3371d3c/4254231_5aa9ad3703c5395.jpg?w=700)
Ao dizer que "o Ibama é um órgão do governo, parecendo que é um órgão contra o governo" por demorar em conceder licença ambiental para explorar petróleo na Margem Equatorial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rasgou a fantasia da economia verde que usou no primeiro evento internacional depois de sua eleição e ainda antes da posse, a COP27, em novembro de 2022.
O áudio da entrevista a uma rádio do Amapá deixa claro que Lula não foi pego de surpresa: tomou a iniciativa de convidar o interlocutor a questioná-lo sobre o tema. Ou seja, desautorizar o órgão federal que foi alvo de tentativa de desmoralização por seu antecessor era mesmo a sua agenda. Não satisfeito, avisou:
– Não é que eu vou mandar explorar o petróleo no Amapá, eu quero explorar. Mas, antes de explorar, nós precisamos pesquisar.
A performance foi acompanhada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que defende com fervor a exploração da costa mais ao norte do país. Lula tem direito de, em nome do interesse nacional, argumentar a favor da exploração da Margem Equatorial. É um debate legítimo.
Mas se pretende vender o Brasil como líder da economia verde na COP30 em Belém, em dezembro próximo, precisa manter a liturgia presidencial e o respeito a órgãos independentes da gestão pública. Pelo menos.
Ao tentar impor sua visão de forma autoritária, corre o risco de ecoar o suposto antípoda Donald Trump, que abandonou o Acordo de Paris depois de entoar "drill, baby, drill" (perfure, baby, perfure) em plena posse presidencial.
Menos de um mês depois da troca no comando da comunicação do Planalto, fica cada vez mais claro que o problema não era a intermediação. Na forma, no tom e no conteúdo, Lula assumiu postura de autocrata. Assim, fica difícil cobrar erros da equipe.
Quando Lula convidou a hoje ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, não faltaram integrantes do Partido Verde que desaconselharam sua líder a declinar. Ainda pesava o precedente da desautorização de Marina pela então presidente Dilma Rousseff. A história corre o risco de se repetir. E não parece ser como farsa.
Atualização: em nota, servidores do Ibama reagiram afirmando ser "inadmissível" pressão política sobre as decisões técnicas do órgão. Em um dos trecho, afirmam: "As declarações que desqualificam o Ibama e seus servidores desrespeitam o papel fundamental da instituição na defesa do interesse público, que é seu objetivo final, independente do governo da vez".