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As tarifas de reciprocidade confirmadas na quinta-feira (13) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, podem reduzir as exportações brasileiras em US$ 2 bilhões, conforme projeção do Bradesco. O boletim assinado pelo economista Rafael Murrer estima que afetaria cerca de 5% do total embarcado no Brasil para os EUA. O impacto seria quase três vezes maior do que o da alíquota de 25% sobre embarques de aço.
Nesta sexta-feira (14), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a afirmar que pretende exigir "reciprocidade":
— Se tiver alguma atitude com o Brasil, haverá reciprocidade. Não tem dúvida.
Apesar de ser um termo tradicional na diplomacia brasileira, por significar o mesmo tratamento em uma relação entre duas partes, a essa altura, é contraproducente. Afinal, a ameaça de Trump é exatamente exigir essa característica em relação desfavorável para o Brasil, porque as tarifas médias nacionais são mais altas do que as cobradas pelos EUA.
No cenário traçado no estudo, para compensar a redução na entrada de dólares no Brasil com redução nas exportações, o real se desvalorizaria 1,5%, com impacto potencial inferior a 0,1 ponto percentual na inflação.
Isso, claro, caso a ameaça fosse implementada tal como anunciada, o que, em tese, é evitável. O próprio Trump disse, na quinta-feira, que haverá negociação "país a país". O que pretende alcançar é a redução no imposto cobrado sobre a entrada de produtos americanos. O problema é que, ao reduzir a tarifa, o Brasil pode afetar empresas nacionais, porque produtos americanos ficariam mais acessíveis.
O documento ainda traça possíveis efeitos da tarifa de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio. A perda projetada nas exportações brasileiras é de US$ 700 milhões, resultado de redução potencial de envio de 1 milhão de toneladas de aço. O alumínio não tem peso relevante na balança comercial do Brasil.
— Os impactos estimados das medidas já anunciadas sobre aço e alumínio são relativamente pequenos para a economia como um todo, ainda que possam ter impactos setoriais mais importantes — escreve Murrer.
A medida tem esse potencial porque o Brasil tem tarifas mais elevadas, em média, do que as americanas. Além disso, conforme a imprensa americana, a "reciprocidade" de Trump ultrapassaria o território do imposto de importação e consideraria todas as barreiras a produtos americanos, inclusive tributos nacionais. Nesse caso, Brasil e Índia seriam os países mais visados.
*Colaborou João Pedro Cecchini