No day after da primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) comandada por Gabriel Galípolo, o mercado discute se novo presidente do Banco Central (BC) atuou como "falcão" ou "pomba". A primeira característica (hawk/hawkish) é ser duro, pegar pesado na taxa de juro ante risco inflacionário; a segunda (dove/dovish) é ser suave, menos agressivo no controle da alta de preços. E qual foi o comportamento de Galípolo e sua diretoria, afinal? Cada um vê de uma forma.
— O tom da decisão foi hawkish, destacando a conjuntura da política econômica nos EUA e a desancoragem das expectativas de inflação dos agentes econômicos no Brasil — avalia Raphael Vieira, colíder de Investimentos da Arton Advisors.
— Dada a desancoragem das expectativas, acho perigoso o BC correr o risco de ser lido como dovish, e ele tomou esse risco — opina Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.
Primeiro, é importante entender por que a classificação "falcão" ou "pomba" importa. Neste momento em que o Brasil passa por alto risco inflacionário, ter uma imagem hawkish contribuiria para a percepção de que o BC "fará o necessário" (é uma expressão até corriqueira, mas tem significado especial no mercado) para frear a alta de preços.
Ser dovish agora seria contraproducente, porque o país já está pagando caro, sob a forma de juro alto, para controlar a economia. A famosa "percepção do mercado" em sentido contrário contribuiria para reduzir a potência da política monetária, já sob certa desconfiança.
Talvez o melhor resumo tenha vindo de Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Pine:
— O documento mantém o tom hawk pois sinaliza a continuidade do aperto monetário enquanto a inflação não convergir para a meta. Ao mesmo tempo, o comitê demonstrou preferência por ganhar graus de liberdade diante das incertezas globais e domésticas (ao não antecipar a segunda reunião seguinte). Nesse sentido, o documento é menos hawk do que o anterior (que comunicou o choque de juro), mas definitivamente não é dove.
Argumentos de quem vê falcão
1. A citação da desancoragem das expectativas de inflação, que ainda estão muito acima da meta.
2. O alerta sobre o papel da política fiscal e "seu impacto sobre a política monetária e os ativos financeiros".
Argumentos de quem vê pomba
1. Ter deixado em aberto a decisão da segunda reunião à frente, de 7 de maio.
2. A inclusão como fator de possível baixa da inflação a desaceleração da atividade econômica doméstica, ainda não caracterizada.