Nos primeiros dias do dilúvio de maio, um grupo de representantes de entidades empresariais gaúchas se reuniu com o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho. Pediram medidas de flexibilização, como redução da jornada de trabalho e salário e a resposta foi um pedido de tempo.
Passado quase um mês, não há sinal de medida no horizonte. O que se sabe é que o Ministério do Trabalho estaria buscando uma alternativa. Na quarta-feira (5), o governador Eduardo Leite reforçou o pedido.
Mas por que há tanta dificuldade de encontrar uma solução, agora que há empresas alagadas há um mês, muitas das quais só tem uma unidade e há poucos dias conseguiram entrar para avaliar prejuízos e condições para voltar a operar?
Um dos motivos é que, diferentemente da pandemia, a enchente não afetou as empresas de maneira uniforme, só com diferenças de tamanho e capitalização. No Estado, grandes centros industriais já atuam em quase normalidade, como a Refinaria Alberto Pasqualini (Refap) e as distribuidoras de combustível e o polo petroquímico de Triunfo.
Randon e Marcopolo - entre outras - ficaram poucos dias sem operar em Caxias do Sul. Até a Neugebauer, da arrasada Arroio do Meio, salvou-se da catástrofe. Só esse grupo responde por uma robusta fatia do PIB industrial do Estado.
Do outro lado, existem empresas que não só perderam quase tudo como as condições e até a perspectiva do tempo necessário para retomar os negócios. Então, um dos problemas será segregar quais os negócios que realmente precisam de amparo para além das linhas de crédito e quais já estão tocando a vida, ainda que com problemas logísticos.
O modelo pretendido por entidades empresariais e por Leite é o mesmo do BEm, em que há suspensão temporária do contrato de trabalho, com redução de renda. O dilúvio de maio já abateu - também de maneira assimétrica - tanto o patrimônio quanto a entrada de recursos nas famílias, especialmente as mais pobres. Alguns empresários reconhecem que há dificuldade em demandar do governo Lula a reedição de uma medida de seu antecessor, dada a polarização política.
Embora seja difícil a retomada de um programa idêntico, é preciso reconhecer que muitas empresas só conseguirão retomar faturamento dentro de meses, não semanas, como se esperava no início de maio. Para essas, de forma segregada e com o cuidado que a situação fiscal do Brasil exige, será preciso algum tipo de ajuda especial.