É uma sensação ambivalente ler uma provocação da The Economist - revista britânica de negócios que já viu o Brasil decolar em 2009 -, ao perguntar se isso vai voltar a ocorrer (confira aqui o original).
Em artigo publicado no dia em que o Banco Central cortou o juro em 0,5 ponto percentual, de 13,75% para 13,25%, a publicação evitou a imagem do Cristo Redentor, mas usou como assunto - expressão que antecede o título - a frase "couid it be... taking off?" (pode estar... decolando?).
O conjunto da obra é bastante mais sóbrio do que capas que marcaram a trajetória do Brasil do céu ao inferno entre 2009 e 2021. Mas o título principal não deixa dúvida sobre o tom: "Investors are increasingly optimistic about Brazil’s economy" (Investidores estão crescentemente otimistas sobre a economia do Brasil). O terceiro elemento de destaque na edição afirma que "an efficient finance minister and the favourable international backdrop are helping" (um eficiente ministro da Fazenda e um cenário internacional favorável estão ajudando).
O texto lembra que, quando Luiz Inácio Lula da Silva se elegou, os investidores "shuddered" (é uma palavra forte, cuja tradução literal é "tremer convulsivamente"). Mas cita uma pesquisa com 94 gestores nacionais de investimentos que apontou 44% com visão desfavorável do governo - ainda alta, mas redução de 90% em relação a março. E, como argumento "matador", cita o aumento da nota de crédito da Fitch.
Se tudo parece tão positivo, por que a coluna teve sensação ambivalente? Primeiro, pelo próprio histórico do céu ao inferno das avaliações da Economist - é preciso admitir que descreveu uma realidade. E também porque essa trajetória remete a outro ícone britânico, o Rolling Stone Mick Jagger, que nos últimos anos criou fama de torcedor pé frio. É bom lembrar que, apenas quatro anos depois do primeiro "taking off", veio um "blown it" (estragou, destruiu). Se agora há chance de decolar de novo, é preciso cuidado para não haver reprise também da queda.