De fato, o depoimento de Walter Delgatti à CPI do 8 de Janeiro foi bombástico. Mas exatamente como disse a relatora da comissão, Eliziane Gama (PSD-MA), agora vem a "responsabilidade de fazer o aprofundamento da investigação". A senadora já indicou o próximo passo, a aprovação da quebra do "sigilo telemático" - acesso aos e-mails - do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em sua primeira manifestação pública, Eliziane também afirmou que vai solicitar os "Rifs" (Relatórios de Inteligência Financeira) para rastrear o financiamento do movimento golpista, diante da suspeita de envolvimento do garimpo ilegal.
Delgatti é um personagem contraditório. Quando invadiu celulares para expor a troca de mensagens entre integrantes da Operação Lava-Jato - o que acabou criando o argumento legal para livrar da prisão e, na sequência, permitindo a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva -, o ex-advogado do atual presidente recomendou "distância sanitária" do hacker.
Mas o relato é gravíssimo e parece ter verossimilhança, ou seja, guarda relação com movimentos anteriormente conhecidos do público. Um desses pontos é a promessa de indulto feita por Bolsonaro, já usado no caso do ex-deputado Daniel Silveira. A afirmação de que já foi ao Ministério da Defesa "pela porta dos fundos" talvez seja mais difícil de verificar, mas sua defesa já entregou provas do recebimento de cerca de R$ 40 mil da deputada Carla Zambelli. Depois do depoimento desta quinta-feira (17), ela afirmou que Delgatti não tem credibilidade. De fato, é baixa - vários momentos ao longo do depoimento reforçam essa percepção -, mas não foi obstáculo para que a parlamentar o contratasse.
Também é bom lembrar que ele está preso por ainda supostos crimes entre os dias 4 e 6 de janeiro de 2023 - às vésperas do 8 de Janeiro -, quando teria inserido no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) 11 alvarás de soltura e um mandado de prisão falso contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Delgatti já confirmou ter inserido o mandato falso, com texto fornecido por Zambelli.
O relato foi cheio de detalhes, nomes e episódios conhecidos - como o relatório das Forças Armadas sobre a segurança das urnas, sobre o qual ele reivindica contribuição. Como tem conhecimento desses fatos, assim como todos nós, Delgatti pode ter acoplado relatos convenientes, mas deu detalhes comprováveis. Essa será a tarefa a partir de agora, sem deixar de observar que Bolsonaro já está no centro das investigações.
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