Na manhã seguinte ao dia nacional de corte de juro, o esporte preferido entre economistas é traçar a trajetória do ciclo de baixa enfim iniciado. E há mais consensos do que discordâncias, ao contrário do que ocorria até a véspera.
Um dos motivos é porque o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) já definiu os próximos passos de forma unânime, sem a divergência que marcou a escolha da tesoura da poda.
Como a coluna destacou, chamando atenção para o plural, o mapa do ciclo de baixa está pronto: "em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário".
Ou seja, ao contrário da tensão pré-Copom até 2 de agosto, o resultado das próximas reuniões já foi antecipado: serão novas podas de 0,5 ponto percentual em 20 de setembro (para 12,75%), 1º de novembro (para 12,25%) e 13 de dezembro (para 11,75%). Claro, "em se confirmando o cenário esperado". Isso significa que a Selic terminaria o ano 0,25 ponto percentual abaixo da estimativa mais frequente no boletim Focus, que na semana passada era de 12%. Mesmo assim, não poucos economistas já estavam alinhados à projeção que o Copom traçou em seu comunicado.
Um deles é André Perfeito, que tem anos de experiência no mercado financeiro, que apostava em corte de 0,5 p.p. e Selic de 11,75% no final do ano.
— Depois da decisão do Copom e da leitura do comunicado, reitero a projeção inicial de que a taxa básica feche o ano em 11,75%, na perspectiva que as próximas três reuniões do ano terão cortes em igual magnitude da decisão de ontem.
Mas, curiosamente, se antes Perfeito estava "mais otimista" do que a média do mercado, agora mudou de posição:
— Faço uma revisão da taxa terminal do ciclo, que antes era de 10%, para 10,75%, uma vez que o BC deixou claro que pretende deixar a taxa básica no campo contracionista (Selic alta com objetivo de reduzir o ritmo da economia) para assegurar a convergência das expectativas de inflação.
Mas não poucos economistas projetam Selic de um dígito antes do final de 2024 - para quando ainda não há sinalização no comunicado. Não será um dígito do tipo 2%, como ocorreu entre 6 de agosto de 2000 a 17 de março de 2021, para tentar estimular a atividade econômica em meio à pandemia. Mas há várias projeções de mercado para Selic entre 8% e 9% no último trimestre de 2024. Para lembrar, a leitura do mercado sobre a famosa "taxa neutra" do BC - aquela que não reduz nem acelera o ritmo da economia - está ao redor de 5%. Então, se alcançarmos os 8% ou 9% no final do próximo ano, o viés ainda será de aperto. Mas, claro, muito diferente do garrote de 13,75%.