O IPCA-15 de julho veio bastante em linha com as expectativas do mercado - viu, Banco Central? - com recuo de 0,07% nos 30 dias até a primeira metade do mês.
Para lembrar, esse indicador tem exatamente a mesma fórmula do IPCA, a medida oficial da inflação, a diferença é só o período do mês em que é pesquisado.
Como a coluna já detalhou, essa deflação não é 100% fake, como a registrada no ano passado, mas tem lá seus anabolizantes artificiais. Conforme o IBGE, o item que mais puxou os preços para baixo foi a redução dos preços de energia elétrica residencial (-3,45%), resultado do chamado bônus de Itaipu, creditado nas faturas de julho.
Mas também teve baixa de preços onde mais importa - e é mais difícil de "forçar": o grupo de alimentação e bebidas recuou 0,4%, muito devido à redução de 0,72% na alimentação no domicílio. Então, tem anabolizante, mas não só anabolizante, o que aumenta a credibilidade do processo de "desinflação", como gosta de escrever o Banco Central (BC) no comunicado sobre as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom).
E se o resultado geral ficou dentro do esperado, houve surpresas positivas "dentro" do indicador: os famosos "núcleos" que preocupavam o BC - parte do índice geral que costuma ser mais resistente à queda - retrocederem, assim como o item chamado Serviços Subjacentes, que também dá sinais de comportamento futuro. E se não bastasse, o boletim Focus, do BC, que representa a média das projeções do mercado, trouxe redução nas expectativas de inflação para este ano de 4,95% para 4,9% e, em 2024, de 3,92% para 3,9%. Em 2023, falta apenas 0,15 ponto percentual para que a inflação feche dentro do teto da meta.
Como resultado, analistas de mercado já transformaram em majoritária a aposta em um corte de 0,5 ponto percentual, mais acentuado no juro básico, para além da "parcimônia" - que no curioso léxico do BC significa 0,25 p.p. - sinalizada na ata da mais recente reunião do Copom. Por isso, menos de uma hora depois da abertura, a bolsa de valores já avançava 1,3%, animada com a perspectiva de ver a tesoura mais afiada na próxima quarta-feira (2), quando o Copom deve iniciar, enfim, o tão esperado ciclo de baixa no juro.