Quando anunciou o petista raiz Aloizio Mercadante (PT) para a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva colheu resultado negativo na bolsa de valores.
Na entrevista à Rádio Gaúcha desta quinta-feira (29), véspera de sua chegada ao Estado, reforçou os temores do mercado financeiro e de economistas mais focados nas contas públicas com suas declarações sobre os rumos da instituição.
Não se trata apenas da disposição de financiar empresas brasileiras que prestarem serviços no Exterior, inclusive a clientes inadimplentes como Cuba e Venezuela. Boa parte da lógica de Lula nesse ponto não está distante tanto da realidade quanto da expectativa dos exportadores brasileiros. Ao justificar a retomada das operações internacionais, sustentou:
— É assim que se faz no mundo inteiro. O Estado (nesse caso, no sentido do ente público nacional) não pode dar dinheiro para ninguém. Financia, recebe o principal, o juro e ainda vende produtos brasileiros lá fora.
É um fato: a grande maioria dos países tem um banco ou linhas de financiamento com essa finalidade. São os chamados "exim banks", instituições financeiras destinadas a construir valor integrando o comércio exterior ao crescimento econômico interno. É outro fato que, ainda na gestão anterior do BNDES, portanto insuspeita, um relatório apontou lucro de cerca de US$ 2,5 bilhões com as operações de financiamento a operações brasileiras no Exterior (clique aqui para ler o documento original, publicado em dezembro de 2o22).
Mas também é fato que a inadimplência de Venezuela e Cuba custou aos contribuintes US$ 1 bilhão, conforme o mesmo relatório. A falta de pagamentos foi coberta pelo Fundo de Garantia à Exportação (FGE), que drena recursos do próprio BNDES. O lucro cobre com folga a perda? Cobre. Mas um dos temores mais recorrentes entres economistas que acompanham as contas públicas é com as chamados "gastos parafiscais", ou seja, com despesas que não são condicionadas ao novo marco fiscal, caso das feitas pelo BNDES.
Lula dá bases negociais aos financiamentos do BNDES a negócios brasileiros no Exterior, mas flerta também com um certo messianismo verde-amarelo ao afirmar que "o Brasil é um papís muito grande, que tem a maior população" e indagar "se não ajudar como é que vai ficar". Ou seja, sim, linhas de crédito à exportação podem ser uma bom estratégia. Mas precisa estar focada nos ganhos para o país, não em "ajuda" a vizinhos com alto risco de default.
E só para não esquecer, o famoso financiamento do BNDES ao gasoduto Néstor Kirchner, que ligaria a Argentina ao Brasil passando pelo Rio Grande do Sul foi "anunciado" pela secretária de Energia ainda em dezembro passado. Na época, o banco público negou. Será que agora vai?