O relatório O Futuro do Trabalho 2023, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, no Brasil com apoio da Fundação Dom Cabral, tenta quantificar uma percepção inquietante: em um universo potencial de 800 milhões de pessoas, as novas tecnologias e a pauta ambiental podem agregar 69 milhões de novas ocupações até 2027. E eliminar 83 milhões, com saldo negativo de 14 milhões.
Em uma base de dados que analisa 673 milhões postos de trabalho, a redução líquida de 14 milhões corresponde a 2% do emprego atual. Mas se traz perspectivas sombrias - especialmente em países de baixa qualificação de mão de obra, como o Brasil - o estudo tem um lado luminoso: serão abertas muitas oportunidades em dois segmentos em que o país tem vantagens competitivas: agricultura e economia verde - especialmente energia renovável.
O relatório, que está na quarta edição, analisa dados estatísticos de 45 países, mais informações fornecidas por LinkedIn – mídia social focada em negócios e emprego – e Coursera –plataforma que oferece graduações, cursos e certificações online –, além de pesquisa de opinião com executivos em 803 empresas de 27 setores que representam cerca de 11 milhões de postos de trabalho no mundo.
É claro que, em tempos de ChatGPT, temas como inteligência artificial e análise de dados permeiam as conclusões: novas tecnologia ameaçam algumas profissões. Carlos Arruda, gerente executivo do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral e um dos autores da versão nacional do estudo, diz que a tecnologia desloca oportunidades: substitui funções, cria outras. Cita o exemplo da leitura de medidores de energia elétrica, que ao menos em Belo Horizonte, já é 100% feita por sistemas autônomos:
— Senhores e senhoras perderam empregos, ou se aposentaram ou precisaram se requalificar.
Uma das conclusões do estudo, observou, é de que países com percentual significativo de mão de obra não qualificada para usar novas tecnologias, como o Brasil, terão elevação significativa do desemprego. Os países mais ricos, com funções mais qualificadas, por outro lado, devem enfrentar escassez de mão de obra. Como no país os dois segmentos mais promissores são os do agronegócio e o da "economia verde", observa, o Rio Grande do Sul tem um "potencial interessante" de benefícios:
— Há grande oportunidade para mão de obra qualificada para operar o agro hitech. Será o segmento com maior número de empregos gerados, em novas atividades e tecnologias. O segundo vem da pauta verde, com foco em ambiente e em energias renováveis, em que o Estado também tem boa posição.
Aos que temem o cenário "hasta la vista, baby" - a vitória das máquinas na guerra contra a humanidade, como no futuro d'O Exterminador do Futuro -, Arruda oferece um consolo:
— O relatório errou ao prever 47% de substituição de atividades por máquinas até 2025. Hoje, ainda estamos em número muito menor, porque o humano tem se mostrando com capacidade de ir além. A máquina dá um passo, o hum dá um e meio. Neste ano, reduzimos a projeção para 43%. até 2027. Isso mostra a característica humana de se adaptar e usar as ferramentas tecnológicas a seu favor. O avanço foi de um ponto percentual, em vez dos 13 previstos.
A coluna quis saber qual será o futuro da humanidade, se o trabalho intelectual será substituído pela inteligência artificial, e o físico, pelos robôs. Arruda trouxe outro alívio:
— Os robôs são uma frustração das previsões. Imaginava-se que, a essa altura, no Japão cuidadores de idosos e professores de inglês já tivessem sido, em boa parte, substituídos por robôs, mas isso não aconteceu. Essa foi a que menos avançou entre todas as tecnologias digitais.