Se era para ser uma "brincadeira" - como justificam interlocutores do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto - sua frase que associou cumprimento de meta de inflação a juro de 26,5% ao ano brincou com fogo.
Nesta quinta-feira (6), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez seu contraponto:
— Se a meta está errada, mude-se a meta.
Depois disso, a bolsa, que vinha em alta, caiu e voltou a ameaçar ficar abaixo da barreira psicológica de 100 mil pontos. Com frases bombásticas de Campos Neto e de Lula, perde-se a racionalidade desse debate, que não deveria ser travado nem com sustos, nem com ameaças. Mas deve ser travado, sim, não interditado.
Era o que ensaiava fazer o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Na terça-feira (4), ao relatar sua reunião com Campos Neto, afirmou que não anteciparia a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) para debater mudanças na meta de inflação.
Afirmou que, nesse momento, sua equipe ouvia e lia opiniões de economistas de mercado, de pesquisadores da academia e de técnicos do BC para o momento da decisão. Fez questão de dizer, ainda, que acompanhava esse "com humildade" sem se colocar como "dono da verdade".
A coluna já mostrou que o responsável pela implantação do sistema de metas de inflação no Brasil, Sergio Werlang, considera a meta de 3% muito apertada. Afinal, é apenas 1 ponto percentual maior do que a praticada nos Estados Unidos, que além de uma máquina de imprimir dólares tem economia muito mais estável e menos vulnerável do que a do Brasil.
É verdade que Lula foi provocado, durante um café da manhã com jornalistas. Assim como demonstrou disciplina para sequer mencionar o nome de dois desafetos, o ex-presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro Sergio Moro, - confessando que foi treinado para isso pelo ministro das Comunicações, Paulo Pimenta - poderia ter mantido a postura de não adicionar pressão a um assunto já estressante.
A mudança que Haddad encaminhava para fazer sem sustos, discutindo detalhadamente se iria "coordenar ou descoordenar" as expectativas, agora volta a enfrentar sobressaltos.