Um pequeno tesouro foi descoberto no teto da ala Oeste da Casa de Cultura Mario Quintana (do lado esquerdo de quem acessa o prédio pela Rua dos Andradas), em Porto Alegre. Uma pintura decorativa até então esquecida apareceu sob camadas de tinta que haviam mofado durante a enchente. Agora, parte do desenho será recuperada.
À frente do centro cultural, Germana Konrath conta que a descoberta ocorreu por acaso. Foi durante as obras de recuperação pós-enchente, executadas pela Arquium, empresa especializada em restauros.
— A equipe começou a descascar o teto para poder repintar a parte que estava mofada no hall de entrada da ala Oeste. Nesse trabalho, as pinturas foram descobertas. Elas não tinham ainda aparecido, não faziam parte do projeto da década de 1990 (quando a Casa foi inaugurada no formato atual), ao contrário das pinturas da ala Leste — conta Germana.
A partir da revelação, o Departamento de Memória e Patrimônio do Estado, liderado por Eduardo Hahn, buscou apoio para a realização do restauro. Deu certo.
— Foi uma grande surpresa para todos nós. É uma parte da nossa história que estava perdida — diz Hahan.
A recuperação da pintura (da qual ainda não se sabe a autoria) entrou no pacote que inclui a revitalização da sala de estudos da Biblioteca Pública do Estado, já retratada aqui na coluna, com verbas do governo gaúcho, via Secretaria da Cultura.
Nesta semana, segundo o arquiteto Lucas Volpatto, do escritório Studio 1 Arquitetura, responsável pelo trabalho, serão instalados andaimes no local.
— Estamos na fase de prospecção (análise das condições da pintura). Depois, vamos apresentar o projeto de restauro ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae). A ideia é restaurar uma parte dos desenhos para mostrar para as pessoas como era o hall no passado — explica Volpatto.
Além dessa recuperação, também serão feitos ajustes na ala Leste, respeitando as camadas do tempo.
— Nenhum tempo é mais valioso do que o outro. Estamos debatendo com o Iphae até onde a gente vai com essa recuperação, para que não afete o projeto pensado na década de 1990. É um debate interessante — pondera Germana.
Quem sai ganhando, somos nós.
Curiosidades
A pintura mural decorativa encontrada na ala Oeste é bem diferente da existente (preservada) na ala Leste. O desenho recém descoberto é ligado ao ecletismo e à representação de florais. O da ala Leste tem formatos geométricos.
Mentalidade
Mas por que, afinal, o mural da ala Oeste foi coberto com tinta neutra no passado?
Eduardo Hahn, diretor do Departamento de Memória e Patrimônio do Estado, explica que é preciso entender o contexto de cada época.
— Quando surgiu o modernismo (no início do século 20), muitas pinturas ecléticas foram cobertas. Isso ocorreu no Memorial do RS, no Margs, na Biblioteca Pública e em outros prédios — explica Hahn.
A Casa de Cultura foi revitalizada e aberta no formato atual em 25 de setembro de 1990. Não se sabe ao certo por que a pintura mural da ala Leste foi recuperada e a da ala Oeste, não.
— Fazer uma restauração era mais caro do que é hoje. Além disso, naquela transição dos anos 80 para os 90, a mentalidade era diferente da atual. Ainda não se dava valor para descobertas como essa que fizemos na Casa de Cultura — pondera o diretor.