A confirmação da cobrança de imposto de importação (tarifa) de 25% de produtos de Canadá e México que entram nos Estados Unidos, além de 10% para os da China, é vista como o início de uma guerra mundial comercial. Os países afetados pela medida já estudam retaliações, o que provoca um movimento de aversão ao risco em todo o mundo.
Como os EUA mantinha um acordo de livre-comércio com Canadá e México, isso significa que os produtos importados desses dois países ficarão 25% mais caros para... os americanos. A presidente do México, Cláudia Sheinbaum, já afirmou que o país vai reagir com medidas tarifárias e não tarifárias. O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, anunciou reciprocidade: tarifas de 25% contra produtos americanos.
Pequim teve uma reação quase irônica: avisou que vai contestar os EUA na Organização Mundial do Comércio (OMC) – instituição que ajudou a desmoralizar com políticas de dumping (exportação a preços mais baixos do que os de mercado) – e prepara medidas equivalentes. Um dos efeitos líquidos será a maior dificuldade global de baixar preços, que subiram no mundo todo devido ao desarranjo das cadeias produtivas durante a pandemia.
Além do fato de afetar consumidores e muitas empresas americanos que atuam no México e no Canadá, a medida de Trump pode não ter o papel esperado. Uma das "justificativas" para a imposição de tarifas são os altos déficits comerciais dos EUA com esses países – importam muito mais do que exportam.
Conforme Welber Barral, ex-secretário de Comércio no Brasil, o déficit dos EUA é estrutural, ou seja, não pode ser resolvido por tarifas, porque o país não produz em volume suficiente os produtos que importa. E a maior saída de dólares com pagamento de importações é compensada por dividendos enviados para o país pelas multinacionais americanas – como a saída registrada no ano passado no Brasil – e por entradas de capital provenientes de investimentos estrangeiros.
— Em vez de revitalizar as indústrias americanas, vai torná-las menos competitivas, conduzindo a pressões inflacionárias que, em última análise, prejudicam os consumidores e a economia. O resultado final? Mais tarifas sobre produtos finais, criando um ciclo vicioso.
No ano passado, o Brasil comprou cerca de US$ 40,5 bilhões dos EUA e vendeu ao redor US$ 40 bilhões. Ou seja, tem um pequeno déficit, do nosso ponto de vista, enquanto o país de Trump tem um mínimo superávit, de US$ 500 milhões. Não há justificativa para aplicar tarifas sobre produtos brasileiros, em tese. Mas é bom lembrar que o presidente dos EUA vem ameaçando todos os países do Brics, do qual o Brasil faz parte.
Também em tese – contando com uma racionalidade de Trump que não se pode garantir – o Brasil poderia até se beneficiar dessa guerra comercial, exportando para os países barrados pelas tarifas.
— Com a taxação de produtos americanos, as empresas brasileiras têm uma oportunidade única de aumentar sua participação no mercado canadense — avalia o economista André Perfeito, lembrando ainda que o Brasil aumentou suas vendas à China quando Trump impôs tarifas ao país asiático durante o primeiro mandato.
Na manhã desta segunda-feira (3), o dólar abriu em alta, moderou bastante a subida e voltou a acelerar, no final da manhã com alta de 0,8%.