Desde que assumiu o comando da Empresas Randon - conglomerado de 31 unidades industriais em seis países - , Daniel Randon intensificou dois movimentos: inovação e internacionalização. Também liderou a adoção de práticas ESG (governança corporativa, social e ambiental). Na segunda-feira (17), recebe a medalha do Mérito Farroupilha da Assembleia Legislativa, logo depois de inaugurar, na quinta-feira anterior, uma unidade fabril dedicada à eletromobilidade da Suspensys, uma das divisões do grupo. Uma das várias frentes de inovação da Randon, o de pesquisa de novos materiais, colocou a marca associada a carrocerias de caminhões pesados em um caminho inesperado: o dos cosméticos, ainda envolvido em várias camadas de sigilo. É uma mostra da transformação da companhia.
Países querem elevar a nacionalização de autopeças, a Randon está de olho?
Na pandemia, surgiu uma clareza no mercado de que não podemos mais depender só de um país importador. E, às vezes, é complicado, pois quando fornecemos para uma montadora e desenvolvemos uma peça, existe um programa que prevê que o fornecedor esteja qualificado para cada especificidade do produto. Assim, leva tempo para mudar de fornecedor. Os chips são um exemplo: a maioria é fabricada na Ásia, mas governos e empresas estão investindo para ter outras alternativas além do mercado da Ásia. A Randon tem muitas empresas locais na sua cadeia de fornecedores.
Já existe alguma demanda desse movimento?
Fabricamos autopeças no Brasil e muitas montadoras, quando têm oportunidade de comprar autopeças produzidas internamente, compram. Nos últimos anos, a Randon fez aquisições de fundições, que estão na base do segmento de autopeças. Nos últimos três anos, a Randon praticamente triplicou sua capacidade de fundidos, enquanto investe em tecnologia. Temos o Instituto de Ciências e Tecnologia (ICT) e o Centro de Tecnologia Randon (CTR). Com universidades, engenheiros da empresa, matemáticos, físicos, e outros profissionais, a área de desenvolvimento soma cerca de 200 pessoas que contribuem com diversos projetos. Como as iniciativas de nanonióbio e também de compósitos. Também temos projetos de eletromobilidade, tanto na parte eletrônica até o eixo auxiliar elétrico. Esse último projeto foi feito em três anos, com nove empresas: cinco unidades da Randon e quatro startups. Se fosse nos moldes anteriores, com poucos parceiros, levaria de cinco a seis anos para ir para o mercado. Mas já está homologado e estamos fornecendo desde o ano passado para clientes.
Em geral, quem busca essas soluções são empresas que já tem uma visão mínima de práticas ESG ou é demandando por um cliente que quer saber o que está sendo feito para diminuir a pegada de carbono.
Quais foram os primeiros clientes do eixo elétrico?
O primeiro foi uma empresa do Chile, que tinha um percurso em local de difícil acesso e buscava reduzir o tempo de viagem e ampliar a sua autonomia. Em geral, quem busca essas soluções são empresas que já tem uma visão mínima de práticas ESG ou é demandando por um cliente que quer saber o que está sendo feito para diminuir a pegada de carbono. Acabamos de inaugurar a planta de eletromobilidade da Suspensys, em Caxias do Sul, onde produzimos baterias de fosfato, ferro e lítio. Compramos componentes no Exterior, mas a montagem e a inteligência de software são 100% brasileiras, o que nos orgulha muito. Além da bateria, o eixo auxiliar elétrico é feito ali. Em cinco anos, vamos gerar mais de cem empregos. No quinto ano, teremos capacidade de produzir mil produtos em 12 meses.
Como vê o futuro do mercado de eletromobilidade?
Neste ano, estive no Fórum de Davos e a pauta principal é o carro elétrico, principalmente para distâncias menores e trechos urbanos. Para o Brasil, é melhor ainda, pois nossa matriz energética é limpa. Mas não existe apenas uma alternativa, tem hidrogênio, biocombustíveis. Em outubro, lançamos uma carreta-piloto com placas solares. É frigorífica, permite escolher se usa a energia gerada para refrigeração ou no eixo elétrico.
Estamos investindo R$ 100 milhões em energias renováveis até 2030. Já abastece quase todo o Centro de Tecnologia Randon (CTR) e para a parte logística da Randon.
A ida a Davos também teve o objetivo de reforçar a Randon no mundo?
Sim, queria ir a muito tempo, fui adiando por causa da pandemia. Além de networking, é uma oportunidade de aprender e participar de eventos e palestras. Reforçou que estamos no rumo certo. Lançamos, na metade de 2021, nossa Ambição ESG, com cinco objetivos principais. Existem outras metas, mas vamos começar por duplicar as lideranças femininas até 2025; zerar o despejo de efluentes e de descartes em aterros; zerar o número de acidentes graves; aumentar a receita com produtos inovadores e chegar a 2030 com redução de 40% nas emissões de gases de efeito-estufa. Estamos investindo R$ 100 milhões em energias renováveis até 2030. Já abastece quase todo o Centro de Tecnologia Randon (CTR) e para a parte logística da Randon. Um ponto importante é que grandes clientes, que participam como parceiros, e fornecedores reforçam a necessidade de desenvolver projetos com cuidado ambiental.
Que projetos vocês estão desenvolvendo com nanonióbio?
É uma tecnologia que a Randon desenvolve e já tem patentes globais, que transforma o micronióbio em nanopartículas. A escala é algo como se o micro fosse o planeta Terra e o nano, uma bola de futebol. É um metal nobre, e quando se usa nanotecnologia, conseguimos obter resultados muito melhores, interage melhor ainda no produto. Temos parceria com a Weg há um ano para tinta industrial específica protege quatro vezes mais de corrosão.
Há um projeto de um creme de proteção para soldadores com nanopartículas de óxido de nióbio, o que abre possibilidade de explorar o uso em outras soluções, como proteger a pele contra raios UV (ultravioleta).
Existem outros projetos?
Temos 17 eixos de aplicação e cerca de 40 projetos. Há um projeto de um creme de proteção para soldadores com nanopartículas de óxido de nióbio, e esse desenvolvimento abre possibilidade de explorar o uso dessa partícula em outras soluções, como proteger a pele contra raios UV (ultravioleta). Ainda é um teste, e não podemos falar muito ainda sobre isso. Mas teremos novidades.
Para esclarecer, a Randon não vai fabricar cosméticos…
Não, nosso propósito é desenvolver tecnologias para conectar pessoas. Os resultados nessa linha são bons, mas é o início de uma jornada, vamos buscar parceiros. Só ainda não posso falar quais (risos).
Com tanta inovação, o que é a Randon hoje?
Meu pai começou, com o meu tio, uma oficina mecânica que reformava freios, semirreboques e outros componentes. Hoje, o grande negócio da Randon é a produção de autopeças para veículos comerciais. Cerca de 40% da receita vem de semirreboques e vagões, outros 55% de autopeças, e o restante, de serviços, empresa de automação. Nos últimos anos, a empresa tem se transformado. Além de cerca de 80 startups parceiras, investimos diretamente em oito empresas. Os serviços têm crescido muito. Então, é uma empresa com portfólio grande, o negócio de soluções para o transporte continua, de forma diferente. Na última parceria, com a Gerdau, foi importante. Criamos a empresa de aluguel de caminhões e semirreboques que vai ter uma ferramenta a mais para atender os clientes. Não vendemos só produtos, mas um conjunto de soluções.