Com quase 40 horas de bloqueios em rodovias, o temor de desabastecimento mobiliza entidades empresariais.
Como a falta de manifestação de Jair Bolsonaro sobre a derrota nas urnas acirra os ânimos dos participantes da mobilização, apelam ao presidente para que interfira e impeça que problemas de falta de produtos, que começam a surgir, sejam disseminados.
O apelo mais explícito, por motivos óbvios, é o da Associação Brasileira dos Supermercados (Abras). A entidade informou, em nota, que pediu apoio a Bolsonaro "a respeito das dificuldades de abastecimento que já começam a enfrentar os supermercadistas em função da paralisação dos caminhoneiros nas estradas do país".
Vander Costa, presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), que se mobilizou para pedir a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou à CNN na manhã desta terça-feira (1), afirmou que não deve haver empresários "de porte" entre os líderes do protesto contra o resultado das urnas. Avaliou que os prejuízos do segmento devem ser altos:
— Não consigo acreditar que tenha algum empresário de porte envolvido nessa paralisação, porque ele vai pagar a conta pela falta de carga e por atrasar os compromissos de entrega.
A Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes afirmou que aguarda a liberação das estradas pelos caminhoneiros o mais breve possível, para garantir "o restabelecimento da normalidade do abastecimento nacional".
A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR) em que "alerta as autoridades" para o impacto na malha aérea em consequência do bloqueio. Em nota, aponta estimativa das empresas aéreas de que, caso o cenário atual se mantenha, o segmento possa "sofrer com desabastecimento de combustível" ao longo do feriado.
Em nota, o Instituto Butantan informou que uma carga de ovos usados para produzir vacinas contra o vírus H1N3 (influenza) está presa em um bloqueio perto de Jundiaí (SP), a 47 quilômetros da capital paulista. Ainda há relato do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos de que ao menos uma fabricante de medicamentos está com carga parada e não consegue entregar os produtos.
Atualização: no final da tarde, já quando se esperava o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, a Federação das Indústrias do Estado (Fiergs) também emitiu nota em que "manifesta a sua preocupação diante dos bloqueios de estradas que vêm comprometendo o transporte de cargas no território gaúcho e em alguns Estados". Lembra que, caso se estenda, "a cadeia de suprimentos ficará desorganizada, impactando negativamente os níveis da produção industrial" e pede "solução urgente para que não haja desabastecimento de produtos essenciais, o que atinge alimentos, combustíveis e grande parte dos insumos industriais da maioria dos segmentos fabris".
Atualização 2: em seguida, foi a vez da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que "alerta para o iminente risco de desabastecimento e falta de combustíveis, caso as rodovias não sejam rapidamente desbloqueadas". Conforme a entidade, "as indústrias já sentem impactos no escoamento da produção e relatam casos de impossibilidade do deslocamento de trabalhadores". Em nota, afirma que "a CNI é veementemente contrária a qualquer manifestação antidemocrática que prejudique o país e sua população".
Para refrescar a memória
Em maio de 2018, uma mobilização muito semelhante à atual - a coluna espera que com duração muito menor - fez a inflação chegar ao maior nível mensal em 23 anos, e levou a atividade econômica à maior queda mensal em 15 anos. Portanto, quem bloqueia estradas agora está consciente das consequências.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo