Pelo terceiro mês seguido, o IPCA, indicador de inflação no Brasil considerado oficial no Brasil por servir de referência para o sistema de metas do Banco Central (BC), vem com sinal negativo. Trata-se mesmo de uma deflação, na definição econômica da palavra?
— Não, porque se inflação é aumento de preços generalizado, deflação tem de ser a queda generalizada de preços, que até agora não aconteceu — responde André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Conforme o economista, a redução de preços está concentrada em gasolina, energia, TV por assinatura e telefonia em geral, como efeito da redução das alíquotas de ICMS. Essa mesma hesitação sobre as definições econômicas cercou a alta de preços concentrada em alimentos, entre setembro de outubro de 2020, que vários economistas resistiam a chamar de "inflação".
— Como a gasolina é o item que pesa mais, compromete em média 6% do orçamento familiar segundo o IPCA do IBGE, qualquer movimento que tiver influencia muito na inflação. Cada 1% de queda é 0,06 ponto percentual a menos na inflação que temos. Esses três meses foram de deflação na gasolina — detalha Braz.
Para lembrar, o IPCA pesquisa preços para o orçamento de famílias que têm renda de até 40 salários mínimos, o que hoje significa até R$ 48,5 mil mensais. É um padrão de renda em que a gasolina tem mais peso. Conforme Braz, setembro deve ser o último mês com sinal negativo à frente do IPCA. Para outubro, a projeção é de volta do sinal positivo, embora muito discreto, por volta de 0,4%.
Apesar do uso impreciso da expressão — inclusive pelo IBGE, o que nos isenta de "erro" —, o dado de setembro é o menos concentrado dos meses de "deflação" até aqui: conforme o IBGE, dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, quatro tiveram queda de preços. Ainda não é "generalizada", mas ao menos está mais disseminada do que em julho e agosto. Ainda assim, destaca Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, preços subiram para 70% dos componentes do IPCA. Na projeção da Austin, a projeção para outubro é um resultado com sinal positivo de 0,35%.
O maior impacto, outra vez, foi no grupo de transportes, que teve baixa de 1,98% e contribuiu para reduzir em 0,41 ponto percentual do resultado global. Mas também houve reduções nos grupos de comunicação (-2,08%, com ajuda das telecomunicações), artigos de residência (-0,13%) e, enfim, alimentação e bebidas (-0,51%). Ainda há alta de preços nos grupos de vestuário (1,77%, maior variação positiva do mês), despesas pessoais (0,95%), habitação (0,6%) e educação (0,12%).