Mesmo com as cotações do petróleo em montanha-russa - só neste mês, já aumentaram 15%, baixaram 7%, subiram mais 2,5% e nesta sexta-feira (14) recuam mais 2% -, o preço do diesel no Brasil acabou se distanciado da referência internacional.
Conforme a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a defasagem nos preços do diesel no país chegou a 16% até ontem. Isso significa que, para equilibrar preços internos e externos, seria preciso cobrar R$ 0,97 a mais por litro.
Para entender essa equação, é preciso observar que, embora a política de preços da Petrobras mencione apenas a cotação do petróleo brent como referência, o mercado de cada combustível é diferente. Foi a pressão específica sobre o diesel que fez esse derivado, historicamente com preço por litro inferior ao da gasolina, ultrapassar em muito o preço da alternativa "mais nobre" nas bombas.
No Brasil, o preço médio do diesel na semana passada era de R$ 6,52, enquanto o da gasolina ficou em R$ 4,79, conforme levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Essa diferença também tem origem na redução do ICMS da gasolina, mas reflete em parte a pressão internacional sobre os preços do combustível que, por aqui, está na base do transporte de carga.
– Os preços do diesel em Nova York estão em alta, para cerca de US$ 200 por barril, os mais elevados desde maio, com estoques muito baixos – detalha Décio Oddone, ex-diretor-geral da ANP.
Um dos motivo dessa elevação, mesmo com o recuo no petróleo, é a chegada do frio no Hemisfério Norte. Embora essa metade do globo ainda esteja no outono – como aqui é primavera –, as temperaturas já baixaram e nevascas são comuns em novembro nos países nórdicos da Europa, no norte dos Estados Unidos e no Canadá.
No setor de óleo e gás, esse período é chamado de "heating season", ou temporada da calefação, quando preços do diesel acompanham a variação do óleo usado no aquecimento, porque ambos são da mesma classe de derivados do petróleo, a dos chamados destilados. A expressão que assustava em Game of Thrones volta a meter medo: "the winter is coming".
Atualização: no meio da tarde, a Petrobras lançou uma nota em que afirma, "em relação às notícias veiculadas na mídia a respeito dos reajustes nos preços de combustíveis", que "mantém seu compromisso com a prática de preços competitivos e em equilíbrio com o mercado, ao mesmo tempo em que evita o repasse imediato das volatilidades externas e da taxa de câmbio causadas por eventos conjunturais. A Petrobras monitora continuamente os mercados, o que compreende, dentre outros procedimentos, a análise diária do comportamento de nossos preços relativamente às cotações internacionais".
A política da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, com preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como seguro contra perdas.