A 15 dias da votação em primeiro turno, as promessas dos candidatos à Presidência começam a escalar patamares incompatíveis com o aperto orçamentário da União. Só os acenos de renda mínima ou específica variam de R$ 750 a R$ 5 mil, mesmo depois de orçamento da União de 2023 ter ido ao Congresso com Auxílio Brasil limitado a R$ 400.
Simone Tebet (MDB) prometeu R$ 5 mil a todos os estudantes que completarem o Ensino Médio (leia clicando aqui), Ciro Gomes (PDT) defende renda mínima de R$ 1 mil, Jair Bolsonaro (PL) quer agregar R$ 200 ao Auxílio Brasil para quem conseguir emprego e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu R$ 150 a mais por família para cada criança abaixo de seis anos (clique aqui para ler).
A coluna usou a escala da maior para a menor "oferta" porque há uma curiosa coincidência que, provavelmente, não seja apenas coincidência: quanto menor a probabilidade de eleição, maior a ambição. É fácil de explicar: o eleito será cobrado a cumprir o que prometeu na campanha. Quem não se elege não corre esse risco.
É verdade que a renda extra com a qual Simone acena é para um contingente muito menor do que o dos beneficiados com renda mínima pelos critérios atuais. Portanto, absorve menos do orçamento. Tudo o que a candidata detalha sobre a viabilidade desse pagamento é que ficaria fora do teto de gastos. Para o Auxílio Brasil, a propostas da emedebista é manter o valor de R$ 600.
Diante do tamanho das promessa, o relator-geral do orçamento no Congresso, o senador Marcelo Castro (MDB-PI), admitiu ter se surpreendido ao receber a previsão oficial de despesas da União para 2023 com apenas R$ 400 para cada família do Auxílio Brasil:
— Para nós foi uma surpresa. O Lula está prometendo, o Bolsonaro está prometendo. A expectativa era de que ele (o presidente, candidato à reeleição) tivesse mandado proposta dando o reajuste de R$ 200. A oposição pode prometer, mas o Executivo não precisa prometer, ele propõe. Ele (Bolsonaro) diz que vai continuar com esse valor no ano que vem, mas não propõe. Fica parecendo discurso de candidato.
Ciro diz que sua renda mínima de R$ 1 mil, mais do que o dobro da prevista no orçamento, teria custo total de R$ 297 bilhões. Para bancá-la, usaria parte dos recursos de projetos sociais atuais, que reuniria em um pagamento só, e ainda taxaria fortunas acima de R$ 20 milhões. É bom lembrar que a reforma tributária travou, no Senado, porque houve resistência à tributação de dividendos. E que para Simone, Ciro, Bolsonaro ou Lula, o que tem no orçamento é um benefício de R$ 400.