No início de novembro, a coluna observou que havia risco de a eleição nos Estados Unidos enveredasse pelo "pior resultado possível", mas nem nos piores pesadelos cabiam as imagens vistas nesta quarta-feira (6) no Congresso americano.
Além dos prejuízos materiais no Capitólio, Donald Trump terá de encarar a conta dos danos à maior democracia do planeta. A data de 6 de janeiro de 2021 vai entrar para a História pela porta dos fundos. Foi o dia em que os Estados Unidos quase viraram a Venezuela.
Apesar de ter publicado um tuíte pedindo paz quando a situação saiu do controle e havia até pessoas baleadas, Trump insuflou o protesto. Foi sua incapacidade de aceitar a derrota, com acusações de fraude sem provas descartadas uma a uma por autoridades judiciais, que fermentou o grupo que invadiu o Congresso no dia da sessão que confirmaria o resultado de uma eleição democrática.
Não se trata de achar que Joe Biden é melhor ou pior. Se trata de seguir e respeitar regras. Sem isso, é a insegurança jurídica, maior inimiga da atividade econômica. Quando símbolos de estabilidade caem, o caos se avizinha. Quem acha divertida a invasão do Capitólio deve estar com as portas de casa abertas para grupos que queiram exercer seu direito de protestar sem serem convidados.
Dependendo do desfecho da situação, que não está claro até agora, o prejuízo pode ser maior. Desde que as primeiras cenas da invasão começaram a aparecer, tanto a bolsa de Nova York quanto a brasileira passaram a desacelerar. No Brasil, a previsão era de um novo recorde histórico em pontos. Foi abortado pela barbárie. Fomentar o ódio pode estimular carreiras políticas. Mas quando esse ódio explode, como ocorreu nesta infame quarta-feira (6), todos perdem.